sábado, 29 de maio de 2010

Ipea pede taxação de capital pró-desenvolvimento

O professor Giorgio Romano, da Universidade Federal do ABC, e o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, voltaram a defender a taxação dos fluxos cambiais e a formação de um fundo para financiar o desenvolvimento.

A idéia, segundo eles, vem sendo discutida no âmbito do G20 financeiro e no FMI. Os economistas argumentam que, segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS), anualmente o fluxo de transações cambiais gira US$ 777,5 trilhões e uma alíquota de 0,005% garantiria cerca de US$ 33 bilhões anuais para ações solidárias de combate à fome e à extrema pobreza.


A idéia não é nova. O prêmio Nobel James Tobin, nos anos 70, imaginava uma taxa para, simultaneamente, limitar as especulações e as flutuações nos mercados de câmbio.


“A Taxa Tobin tem dupla função: atenuar o impacto do capital especulativo sobre a economia e gerar um fundo para financiar o desenvolvimento. Mas depende de uma cooperação multilateral, caso contrário haverá arbitragem entre países”, pondera José Carlos de Assis, economista.


Segundo Assis, países como o Brasil, “que estão sujeitos ao capital especulativo”, podem adotar a Taxa Tobin, mas salienta: “Não basta aumentar a alíquota, é preciso vincular o imposto ao desenvolvimento.”

Fonte: Monitor Mercantil

Anistia Internacional lança Relatório 2010 sobre estado de direitos humanos

Repressões, violências, discriminações, jogos de poder e impasses políticos. Essas foram apenas algumas violações de direitos humanos registradas pela Anistia Internacional no ano passado. O relatório 2010 "O Estado dos direitos humanos no mundo" -foi lançado ontem, 27, no Chile - revela os avanços e os desafios ainda encontrados no âmbito dos direitos humanos em 159 países.

 Para a Anistia, a política de alguns governos ainda prejudicam os avanços para a justiça global. Exemplo disso é quando atuam por cima da lei dos direitos humanos para proteger os aliados diante das críticas e para tomar atitudes que lhes são convenientes.

 "Muitos países queriam que outros prestassem contas somente quando isso lhes convinha politicamente e colocavam a noção de solidariedade regional acima da necessidade de atender aos direitos das vítimas de abusos. Foi o que fizeram os EUA e alguns países europeus quando usaram sua posição no Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas] para escudar Israel contra medidas enérgicas de prestação de contas por supostos crimes de guerra e possíveis crimes contra a humanidade praticados em Gaza", revela o informe.

 Os números das injustiças não negam que 2009 foi um ano de desrespeito aos direitos humanos. De acordo com o relatório da organização, violadores ficaram impunes em pelo menos 61 países. Durante interrogatórios, pessoas de 111 países foram torturadas ou maltratadas. Pelos menos 55 países realizaram julgamentos injustos, 96 restringiram a liberdade de expressão, e 48 detiveram prisioneiros de consciência.

 Segundo o relatório, países como Brasil, Jamaica, Colômbia e México registraram centenas de mortes ilegais cometidos por forças de segurança. Estados Unidos, por sua vez, seguiu com as violações aos direitos humanos relacionadas com o combate ao terrorismo. Na África, alguns governos responderam às críticas com uso excessivo de força e mortes ilegais. Já na Europa, comunidades romanis foram discriminadas no acesso a diversos direitos.

 O documento apresenta ainda outros direitos negados a muitas comunidades, como direito à alimentação, à moradia, à educação e à saúde. Conforme o relatório, os desalojamentos forçados em 2009, por exemplo, pioraram a situação de pobreza de várias pessoas no mundo inteiro. Além disso, todos os anos, mais de 500 mil mulheres morrem de complicações relacionadas à gravidez, mortes que, muitas vezes, poderiam ser evitadas.

 Vale ressaltar que o documento da Anistia não apresenta somente registros ruins ocorridos ao longo do ano passado. A organização destaca também avanços, como a prisão do presidente das Forças Democráticas de Libertação de Ruanda (FLRC), Ignace Murwanashyaka, e os julgamentos de ex-mandatários sul-americanos.

 "Na América do Sul, diversos julgamentos de ex-chefes de Estado por violações de direitos humanos transcorreram com base no direito nacional e, no Peru, o ex-presidente Alberto Fujimori foi sentenciado a 25 anos de prisão por violações graves dos direitos humanos cometidas em 1991", relembra.

 Mais informações sobre o informe em: http://thereport.amnesty.org/es

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Há oito anos o Brasil perdia o camarada João Amazonas


Há oito anos, no dia 27 de maio, o Brasil e o PCdoB perdiam o camarada João Amazonas. Aos 90 anos, parava de bater o coração daquele que foi o cérebro e a alma do Partido Comunista do Brasil ao longo de quatro décadas, desde que, ao lado de camaradas como Maurício Grabois, Pedro Pomar, Carlos Danielli e outros bravos dirigentes e militantes comunistas, reorganizou o PCdoB depois da grande cisão ocorrida no partido fundado em 1922.
Por José Reinaldo Carvalho*
Amazonas ingressou nas fileiras do Partido Comunista do Brasil em 1935, atraído para a luta revolucionária depois de ter participado em Belém do Pará num comício da Aliança Nacional Libertadora, organização de frente única, com caráter popular, patriótico e antifascista.
Em 1943, participou da Conferência Nacional realizada na Serra da Mantiqueira, entre São Paulo e Minas, que assumiu a incumbência de reestruturar o Partido após a prisão do seu núcleo dirigente pela polícia política do fascismo estadonovista comandada por Felinto Muller, um dos piores facínoras da história do Brasil no século 20.
Acesse na página da Fundação Maurício Grabois especial e vídeo sobre João Amazonas
Durante a democratização do país, em 1946, Amazonas foi eleito deputado pelo Rio de Janeiro. Ao lado de Prestes, Grabois, Jorge Amado e outros 11 valorosos camaradas, teve atuação destacada na Assembléia Nacional Constituinte, distiguindo-se pelos discursos que proferia em defesa da classe operária. Foi um dos fundadores do MUT – Movimento de Unidade dos Trabalhadores, contra o peleguismo atrelado ao governo e ao então PTB. O MUT desempenhou papel de proa na greve geral de 1953.

Durante a ditadura militar com o movimento democrático compelido à mais estrita clandestinidade, Amazonas dirigiu a flexão tática partidária no sentido da organização da resistência armada. Com Grabois e Arroyo, encabeçou a Guerrilha do Araguaia, um dos feitos mais heróicos da história do Partido.

Amazonas foi também o formulador da tática ampla, combativa e flexível do Partido de acumulação estratégica de forças, que consistia em realizar ações de massas combativas e estruturar a frente ampla para combater e derrotar a ditadura. União dos brasileiros para salvar o país da ditadura e do imperialismo, conquistar a liberdade política, alcançar a democracia popular, pelo caminho das bandeiras democráticas – pelo fim dos atos e leis de exceção, pela anistia ampla, geral e irrestrita, pela Assembléia Nacional Constituinte – foram formulações precisas que armaram o Partido, os aliados democratas e patriotas e o povo nos embates contra o regime ditatorial e de traição à pátria que vigorou entre 1964 e 1985.

Amazonas participou com entusiasmo patriótico e democrático da campanha pelas eleições diretas. Percorreu o país com as lideranças do velho MDB, dos trabalhistas, nomeadamente Leonel Brizola, e com Lula nas grandes jornadas cívicas da campanha pelas eleições diretas para presidente da República, que passou à história como a campanha pelas Diretas Já! Derrotada a campanha por uma maioria artificial no Congresso Nacional, o dirigente comunista não hesitou em participar do movimento pela eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, a última eleição indireta do país, em 1985.

O camarada João foi um incansável lutador por uma Constituição que salvaguardasse os princípios democráticos e a soberania nacional. Dedicou o melhor das suas energias e de seu precioso tempo, entre 1987 e 1988, a dialogar e debater com os constituintes, dentre os quais uma combativa bancada de cinco comunistas, contribuindo assim para formulações justas na redação da Carta Magna do país.

Em 1989, João Amazonas, ao lado de Lula, foi pioneiro da criação da Frente Brasil Popular. Em muitas manifestações públicas, Lula revelou que nos momentos difíceis daquela campanha, apenas ele próprio e Amazonas acreditavam num desfecho positivo. Tal como em 1989, Amazonas acompanhou o então candidato nas campanhas de 1994 e 1998. Poucos dias antes de sua morte, em 2002, recebeu na sede do Partido uma delegação do Partido dos Trabalhadores, com Lula à frente, que viera solicitar formalmente o apoio do PCdoB à candidatura que poucos meses depois triunfava nas urnas, abrindo uma nova página na vida política brasileira. Sua contribuição foi decisiva. Lutou por um novo Brasil até o último suspiro.

O camarada Amazonas tinha profundas convicções revolucionárias e era plenamente consciente, pelos conhecimentos teóricos e a experiência que adquiriu, de que a encruzilhada histórica do Brasil só seria superada com a ruptura revolucionária com o sistema político-jurídico e econômico-social das classes dominantes, baseado na dominação imperialista, no capitalismo monopolista e financeiro e no latifúndio. Opinava que a saída de fundo para o Brasil abrir caminho ao progresso social, à verdadeira democracia e à independência nacional é o socialismo.

Internacionalista, solidário, defendeu o movimento comunista e foi um incentivador incansável da atividade internacional dos comunistas brasileiros.

Dialético, atento aos solavancos e ziguezagues da história, compreendeu que o poder não se conquista nem o socialismo se constrói em linha reta. Muito menos copiando modelos ou repetindo formulações historicamente datadas. Legou-nos as ideias criadoras do Programa Socialista, de 1995, em que se baseia o Programa aprovado no 12° Congresso, no ano passado. Deixou no partido a marca indelével de uma tática e uma estratégia de acumulação revolucionária de forças, de unidade do povo brasileiro, tendo por rumo a libertação nacional, a emancipação social e o socialismo.

Sua maior herança é o Partido Comunista de quadros e de massas, de firmes princípios marxistas-leninistas, instrumento indispensável para levar adiante a luta do povo brasileiro, partido que a geração atual de militantes e dirigentes tem o dever de preservar, consolidar e desenvolver, sempre patriótico, sempre revolucionário, sempre internacionalista, sempre comunista, independentemente das circunstâncias e das conjunturas.

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José Reinaldo Carvalho é Secretário Nacional de Comunicação do PCdoB

Um Plano Nacional do Primeiro Emprego

Precisamos começar a elaborar nossa estratégia nacional pelo primeiro emprego, um conjunto de ações e órgãos que possam repensar a maneira com a qual a juventude se relaciona com o mundo do trabalho. Não existe um órgão de pesquisas e projetos do governo federal voltados para este segmento. É claro que a criação da Secretaria Nacional da Juventude e o Conselho Nacional de Juventude significam um avanço importantíssimo, porém, estes órgãos não cumprem este papel. O que existe, na verdade, é um emaranhado de ações dispersas pelos diversos ministérios desconectados uns dos outros. Fragmentadas, estas ações têm um impacto menor na realidade difícil da juventude brasileira.


Acredito que o primeiro passo seja a criação de um serviço de informações e monitoramento da inserção ocupacional dos jovens. O CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) é órgão que mede a relação emprego/desemprego, mas acho que poderia cumprir um papel mais abrangente, não se limitando apenas a verificar quem tem ou não emprego no Brasil. Ele poderia ser este órgão de acompanhamento, o CAGED-Jovem.


Em segundo lugar, casado ao CAGED-Jovem e por ele sendo orientado, um plano nacional de formação profissional. Nos últimos seis anos, o governo federal construiu mais escolas técnicas do que se construiu em um século de história no Brasil. Portanto, poderíamos utilizar a própria estrutura destas escolas e seus professores para este plano nacional de formação. Fora isso, temos também o sistema “S” (SENAI, SEBRAI e etc) que já forma milhares de pessoas com muita qualidade - porém, o sistema “S” deve ser público.


A maioria das pessoas não sabe, mas cada trabalhador com carteira assinada paga para que este sistema exista e, quando o próprio trabalhador busca mais formação, tem que pagar caríssimo pelos cursos oferecidos. O ministério da educação obteve uma vitória nesta questão e garantiu gratuidade para um milhão de jovens em poucos anos. Portanto, devemos incluir o sistema "S" neste plano de formação da juventude.


Prefiro tratar separadamente a terceira ação, pois, é a principal ação desta estratégia nacional do primeiro emprego, devido a sua magnitude e seus impactos diretos na juventude. Como havíamos dito anteriormente, para quebrarmos o ciclo vicioso do jovem que precisa trabalhar e para de estudar por conta de seu trabalho, seria necessário adiar a sua entrada no mercado de trabalho. Mas, diferente da criança, o jovem tem necessidades de outro tipo. A juventude não procura trabalho somente porque precisa ajudar sua família ou porque gosta de trabalhar. Como sabemos, a maioria dos jovens ocupa lugares de baixa qualificação, portanto, não gosta necessariamente do que faz, mas só o faz porque necessita e suas necessidades vão além de apoio à família.


O jovem trabalha porque quer ser independente, fazer as coisas que gosta, comprar roupa, sair com os amigos e etc. Proibí-lo de trabalhar não adiantaria absolutamente nada. É preciso que se realize um programa de transferência de renda básica para os jovens e, simultaneamente, o jovem poderia participar de atividades socialmente úteis para a cidade.


Gostaria, por último, de fazer uma simulação com vocês do impacto positivo que esta renda básica poderia trazer para a sociedade como um todo. Sabemos que a juventude é a que mais mata e morre no Brasil. No Rio de Janeiro, estes números são alarmantes - assim como são alarmantes o número de jovens que abandonam a escola por conta do trabalho. Acredito que o primeiro impacto seria o de trazer, aos poucos, de volta para os bancos das salas de aulas os mais de 5 milhões de jovens que estão fora do ensino médio e impedir que mais jovens o abandonem,  pressionando o Estado brasileiro a resolver uma outra questão grave: a falta de professores. Para se ter uma ideia, precisamos contratar 510 mil professores, abrir 140 mil turmas e construir 47 mil salas de aula para suprir a demanda.


O segundo impacto, acredito, seria na segurança pública - uma maneira eficiente de combater a marginalidade juvenil.


Façamos uma conta para o Estado do Rio de Janeiro, onde residem cerca de 1,1 milhões jovens entre 15 e 18 anos. Se realizássemos uma linha de financiamento de metade desses jovens - ou seja, os 550 mil jovens mais pobres, recebendo uma bolsa de 400 reais, o Estado investiria 220 mi por mês e, 2,6 bi por ano. Como diria meu amigo Fernando Henrique Borgonovi, isso é dinheiro de pinga para o que pode proporcionar de benefícios a todo o Estado. Somente para as Olimpíadas serão investidos cerca de 36 bi de recursos públicos, investimento direto da União, do estado e do Município. O Brasil continuará a crescer cerca de 5 a 6% nos próximos anos e o estado do Rio será um dos que mais crescerá, devido não só aos investimentos dos grandes eventos esportivos, mas com os vultosos recursos dos royalties atuais e dos que ainda estão por vir com o pré-sal.


Tentei nestes dois pequenos textos expressar uma opinião que é muito vasta e polêmica. Espero ter conseguido em certa medida esquentar este debate, principalmente agora que estamos realizando o 15º congresso da UJS e, acredito, ser esta uma grande bandeira para os jovens socialistas e progressistas do Brasil. Deixo a dica para quem quiser pesquisar mais: leiam o livro do professor Marcio Pochman, "A batalha pelo primeiro emprego".


Um grande abraço a todos e todas. Saudações socialistas!


Ismael Cardoso foi presidente da UBES e é membro da direção nacional da UJS.
quarta-feira, 12 de maio de 2010

O legado leninista e a nova luta pelo socialismo


No seminário Pensar Lênin: aspectos contemporâneos de sua teoria – realizado sábado em São Paulo – o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, fez uma intervenção sobre as experiências socialistas, a importância do líder russo e os desafios atuais do movimento comunista. Trazendo a análise para os dias de hoje, disse: “o grande desafio colocado para os revolucionários de todo mundo hoje é justamente vincar uma corrente marxista forte através de um partido revolucionário forte e influente”. Acompanhe.

O período que vai da grande revolução proletária de Outubro de 1917 na Rússia à débâcle contra-revolucionária de 1989/1991 – do ponto de vista histórico — é um tempo diminuto. Mas seu impacto no movimento revolucionário no mundo foi muito grande. Na atualidade, ao debatermos aqui neste seminário os aspectos contemporâneos da teoria de Vladimir Ilich Lênin, precisamos extrair as lições desta primeira importante experiência de construção do socialismo na história da humanidade.

Lênin foi o líder revolucionário mais destacado de nossa era e um grande teórico. Sua projeção vai muito além da Revolução Russa. Transformou-se numa referência, um pensador de grande estatura, um grande estrategista. Na verdade, ele formulou a teoria e a política para a revolução proletária do século XX e contribuiu decisivamente para os êxitos da luta de libertação nacional e a construção do campo socialista. Entretanto, com a crise da experiência socialista, cujo ápice foi 1989/1991, os ideólogos capitalistas vaticinaram a eternidade do capitalismo. Passamos a viver um mundo unipolar, onde os Estados Unidos assumem o controle quase absoluto de uma ofensiva imperialista em todos os terrenos, especialmente com a aplicação das políticas neoliberais.

Ensinamentos da derrota do socialismo na URSS

Diante da derrota desta primeira experiência de construção do socialismo, observamos dois tipos de conduta bem definidos no movimento revolucionário mundial. Os que renunciaram ao legado socialista e os que mantiveram a identidade socialista. Estes últimos são os que buscaram compreender o que havia ocorrido na URSS e no Leste Europeu e procuraram absorver os ensinamentos. No Brasil, estes ensinamentos apontam para uma situação em que nos perdemos em preceitos formais que de maneira sintética poderiam ser resumidos assim:

- A idéia da inevitabilidade de duas etapas da revolução em países dependentes;
- A concepção da existência de modelo universal de socialismo para todos os países e um esquema de socialismo que deveria ser seguido em todo o mundo;
- A compreensão programática de que deveria haver trânsito direto para o socialismo.

Estas idéias dificultaram muito descortinar o horizonte político, impedindo que desvendássemos claramente a realidade brasileira num primeiro plano na formulação programática.

No 8º. Congresso do PCdoB em 1992 e em sua 9ª Conferência Nacional sobre o Programa, de 1995, nos dedicamos a estudar e compreender porque houve este desmoronamento por dentro do regime soviético. Além das questões que o Partido já havia chamado a atenção – como o golpe promovido por Nikita Khruschev e setores do Exército contra a direção bolchevique – constatamos problemas graves na concepção da direção do novo governo implantado como, por exemplo, a fossilização do sistema de soviets, que deixaram de ter a função de uma instância de poder das massas no processo de construção socialista.

Aos poucos estes soviets foram sendo subestimados e as relações entre o governo e o povo foram se enfraquecendo, assim como as relações entre o Partido Comunista e o movimento dos trabalhadores na União Soviética. O marxismo-leninismo acabou se restringindo a uma doutrina de Estado para justificar as políticas e ações de governo. Ocorreu simultaneamente uma estagnação evidente do modelo de desenvolvimento econômico e do trabalho teórico revolucionário de construção da nova sociedade.

O resgate do pensamento leninista

O PCdoB desde meados da década de 90 do século passado procurou estudar um dos aspectos do pensamento leninista deixados na penumbra pelo movimento comunista que foi a questão da transição do capitalismo para o socialismo. João Amazonas, líder de nosso Partido, debruçou-se sobre a obra de Lênin especialmente no período de 1918 a 1923, onde ele oferece ensinamentos sobra a transição de países atrasados para um estágio superior de sociedade. Lênin esboça então uma teoria da transição para o socialismo, a partir da proposta da Nova Política Econômica, conhecida por NEP. Partia do raciocínio de que o socialismo deveria ser um sistema mais avançado do que o capitalismo. Pensar em socialismo em países atrasados e até com características feudais seria um non sense. O desafio foi levar adiante esta tarefa socialista. A teoria que embasava a NEP levava em consideração problemas de método, de tempo, de lugar e da dinâmica revolucionária.

A NEP procurou enfrentar uma séria defasagem entre a situação atrasada das forças produtivas na União Soviética do início dos anos 20 para patamares mais avançados. O problema central se tratava de como criar base material para fazer surgir o socialismo e de como o capitalismo poderia ser usado para o desenvolvimento das forças produtivas nos marcos do poder democrático-popular.

Muitos anos depois tanto a República Popular da China nos anos 80 como a República Socialista do Vietnã nos anos 90 seguem caminhos parecidos com suas características peculiares. A fase primária do construção do socialismo — segundo os chineses — ainda terá 50 anos pela frente. Os chineses e vietnamitas encontraram uma saída com a política de reforma e abertura. No caso de Cuba e da Coréia o bloqueio imperialista impõe sacrifícios a seus povos que além disso enfrentam sistematicamente tragédias naturais. Mesmo assim buscam saídas próprias diante do cerco violento capitaneado pelos Estados Unidos. Haverão de promover ainda várias etapas de transição para superar as dificuldades.

A nova luta pelo socialismo

O grande desafio colocado para os revolucionários de todo mundo hoje é justamente vincar uma corrente marxista forte através de um partido revolucionário forte e influente, respeitado em cada um de seus países, o que naturalmente supõe avançar teórica e ideologicamente, para desenvolver o marxismo e o leninismo para a nossa época. Assim como Lênin no início do século XX enfrentou a questão de buscar uma saída para desencadear a revolução na Rússia – um país atrasado do ponto de vista das relações de produção, um “elo frágil da cadeia imperialista”, como dizia Lênin, onde a revolução proletária poderia se iniciar – sendo que a análise predominante na época era de que o processo revolucionário dar-se-ia primeiramente onde estas relações de produção estivessem mais avançadas, como conceberam Karl Marx e Friedrich Engels em suas obras do final do século XIX.

Com este espírito de luta o partido comunista, diante das novas exigências, deve levantar a bandeira da retomada da luta pelo socialismo. Assim poderemos enfrentar a lógica do desenvolvimento desigual e o processo de centralização e concentração do capital na era do imperialismo. A falsa euforia propagandeada por Francis Fukuyama e seu “Fim da História” foi abatida com a eclosão da terceira grande crise do sistema econômico e financeiro mundial em 2007 e 2008, com repercussões que se fazem sentir ainda hoje com a falência do neoliberalismo na Grécia e a situação precária da Espanha, Portugal e do próprio sistema da União Européia.

Historicamente o capitalismo está superado

A grande questão é que historicamente o capitalismo está superado, mas ideológica e politicamente continua vivo. Os revolucionários se colocam diante de duas situações básicas na atualidade:

- promover o acúmulo de forças nos países capitalistas para a transição ao socialismo;
- lutar pela construção do socialismo nos países que não sucumbiram à negação deste mesmo socialismo, respeitando suas características próprias. Além destas duas condições deveremos levar em conta também a busca de alternativas ao capitalismo, como se faz hoje na Venezuela, processo que merece ser acompanhado e que serve de lastro para novos caminhos. Como já vimos, não existe um referencial único de luta revolucionária rumo ao socialismo.

No caso do Brasil houve um esforço de combinar a luta nacional com a luta social, e de entrelaçar a luta pela democracia com a luta pela soberania para nos aproximar do socialismo. Neste sentido, o Programa Socialista do PCdoB está estruturado em dois pontos essenciais: o rumo socialista e o caminho nacional, popular e de integração com os povos da América Latina. A atuação partidária se desdobra em três frentes: na luta parlamentar e a participação em governos, na luta de idéias e na intervenção no movimento social de forma articulada, para nos permitir o crescimento e a expansão. As alianças são parte fundamental deste processo. O certo é que sem o ciclo aberto por Luiz Inácio Lula da Silva não poderíamos realizar no Brasil o atual acúmulo de forças. Agora, nestas eleições de 2010, teremos que lutar ao lado de um amplo espectro de forças democráticas e progressistas para não permitir que seja interrompido este ciclo. Para isso deveremos fortalecer a candidatura de Dilma Rousseff, indicada por Lula para fazer avançar um projeto nacional de desenvolvimento, com valorização do trabalho, com um papel progressista e protagonista na América do Sul e no mundo.

Acesse o sitio da Fundação Maurício Grabois e tenha mais informações sobre este e outros temas de grande importância.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Há 65 anos, os canhões silenciaram fogo na Europa


 Por Osvaldo Bertolino



Em janeiro de 1933, quando se tornou chanceler alemão, Adolf Hitler já havia publicado sua plataforma política. Era o livro Mein Kampf (Minha Luta), um best-seller que naquele tempo contava com mais de 1 milhão de exemplares vendidos. Nele, estavam claras as idéias do novo chanceler alemão: ódio aos comunistas, aos judeus, aos eslavos, aos proletários, etc. Logo, a venda da obra nazista explodiria. "Com exceção da Bíblia, nenhum outro livro foi tão vendido durante o regime nazista", escreveu William L. Shirer no livro Ascensão e Queda do 3° Reich, parcialmente traduzido para o português pelo histórico dirigente do Partido Comunista do Brasil, Pedro Pomar.

Na obra, Hitler expôs com clareza o modelo de governo que ele queria implantar na Alemanha. A "nova ordem" que o líder nazista pretendia impor ao mundo tinha no Estado de seu país — que um dia se tornaria "o soberano da terra" — o alicerce para uma ditadura absoluta. A "nova ordem" nazista também teria uma "ideologia universal". Para tanto, segundo Minha Luta, a Alemanha deveria ajustar contas com a França, "o inexorável e mortal inimigo do povo alemão". Hitler considerava esse passo decisivo como meio para mais tarde "dar ao nosso povo a expansão que venha a ser possível alhures". 
          
Estratégia nazista 
  
Ele estava dizendo que a Alemanha tinha como alvo final a União Soviética. "A Alemanha deve expandir-se para o Leste, em grande medida às custas da Rússia", escreveu. No primeiro volume de Minha Luta, Hitler discorreu longamente sobre o problema do "espaço vital" — Lebensraum, em alemão. "Se na Europa de hoje falarmos em terras, haveremos de ter em mente apenas a Rússia e as nações vizinhas a ela subordinadas", afirmou o líder nazista. Ele perseguiria esse objetivo até à morte. Para Hitler, o destino tinha sido generoso ao entregar a região à direção dos comunistas — o que, segundo sua teoria, era o mesmo que entregá-la aos judeus.

A estratégia nazista estava clara. Primeiro, era preciso aniquilar a França apenas como condição para o avanço de seus exércitos rumo ao Leste. No decorrer da guerra, essa promessa foi fielmente executada. Hitler tomou a Áustria, a região dos Sudetos, na Tchecoslováquia, e a parte ocidental da Polônia. Em setembro de 1938, os líderes da Alemanha, Inglaterra e França assinaram o "Pacto de Munique", permitindo ao exército alemão iniciar sua marcha para a Tchecoslováquia. A ameaça à União Soviética estava mais perto do que nunca.

Segurança coletiva   
 
Logo depois da ocupação nazista da Tchecoslováquia, a União Soviética propôs uma conferência das seis potências (Alemanha, Itália, França, Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética) para debater formas de evitar futuras agressões. Mas a proposta foi considerada "prematura". Os movimentos no xadrez político ocidental deixavam claro a intenção de manter a União Soviética fora do concerto das potências européias. Moscou voltou a acenar, em vão, com um pacto de assistência mútua com a França e a Inglaterra. Esses movimento evoluíram para a aproximação entre União Soviética e Alemanha.

Discursando no 18° Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em março de 1939, Josef Stalin disse que Inglaterra e França haviam abandonado o princípio da segurança coletiva, com a finalidade de orientar os Estados agressores para "outras vítimas". Stalin advertiu que os países ocidentais estavam empurrando os alemães ainda mais para Leste, prometendo-lhes uma presa fácil. Segundo o líder soviético, os princípios orientadores do país socialista eram o de seguir uma política de paz, de fortalecimento das relações econômicas em todos os países e não permitir que a União Soviética fosse arrastada para conflitos pelos provocadores de guerra.

A batalha de Stalingrado 

O recado foi entendido em Berlim. A Alemanha tinha interesse em atacar a Polônia sem temer uma intervenção soviética. As conversações evoluíram para o pacto de não-agressão mútua. Quando Hitler invadiu a Polônia, a União Soviética movimentou suas tropas para os Estados Bálticos. A etapa principal do pacto estava vencida. A Alemanha nazista preparava-se para "uma campanha rápida" para "esmagar a União Soviética". Em junho de 1941, um ano depois da queda da França, as tropas nazistas atacaram o país socialista. Um general alemão disse que a guerra estaria ganha em catorze dias. 

A batalha de Stalingrado representou a chegada da reviravolta. Dali para diante, o poder de Hitler declinaria, minado pela crescente contra-ofensiva soviética. Um representante do "Ministério para os Territórios Ocupados do Leste", criado pelo governo nazista, disse na ocasião que os soviéticos "estavam lutando com excepcional bravura e com espírito de renúncia, nada mais visando que o reconhecimento da dignidade humana". O resultado seria o esmagamento da máquina de guerra criada por Hitler. Em junho de 1944, as forças anglo-americanas atacaram na frente ocidental. A muralha nazista foi rompida em poucas horas. À meia-noite de 8 para 9 de maio de 1945, os canhões silenciaram fogo na Europa pela primeira vez desde 1939.

Rendição japonesa

Em 2 de setembro de 1945, os japoneses renderam-se a bordo do encouraçado norte-americano Missouri, ancorado na baía de Tóquio. Era o fim de uma luta que se iniciara em meados de 1937, na China, expandindo-se mais tarde para praticamente todo o Pacífico. É impossível calcular o volume de perdas econômicas causadas pela guerra. Quanto à perda de vidas, há uma estimativa, embora longe de ser exata. Morreram cerca de 50 milhões de pessoas, fardadas ou não. Uma média de 8,3 milhões por ano de luta.

Tomada em seu conjunto, a Segunda Guerra Mundial é um fato sem paralelo na história. Nunca tantos países haviam se envolvido num conflito armado. Nunca se produziu tanto armamento. Raramente se aplicou tanta pesquisa e dinheiro no desenvolvimento de equipamentos militares. A guerra começou numa época em que os exércitos ainda usavam cavalos. Quando terminou, os caças a jato já voavam. No final da década de 30, as armas mais destrutivas ainda eram os canhões de grande calibre. Meia dúzia de anos mais tarde o planeta tomava contato com as armas nucleares e com os mísseis balísticos. O mundo não poderia ser o mesmo após o término da Segunda Guerra Mundial.

Fonte: Fundação Maurício Grabois
quinta-feira, 6 de maio de 2010

Renda mínima para a juventude - por Ismael Cardoso

Reproduzo aqui a primeira parte de excelente artigo do ex-presidente da UBES, Ismael Cardoso, publicado no sitio do José Dirceu onde ele faz uma brilhante análise sobre um plano para juventude na execução do Projeto Nacional de Desenvolvimento, como ele mesmo diz “não há projeto nacional de juventude sem projeto nacional de desenvolvimento”.



A juventude tem se tornado tema central para a construção de uma nação forte, porém, devemos admitir que apesar dos valorosos esforços feitos até aqui, pouco se realizou de grandioso para efetividade de um projeto nacional da juventude, que a qualifique e acompanhe sua transição da escola/universidade para o mercado de trabalho. Outro aspecto importante que devemos sempre lembrar é que não existe projeto juvenil que qualifique e incentive o ingresso no mercado de trabalho deslocado do aumento de vagas no mercado em geral, portanto, não há projeto nacional de juventude sem projeto nacional de desenvolvimento.

Pesquisas dizem que a marginalidade não está ligada somente ao ganho fácil de recursos, mas ao poder de ser uma referência em sua comunidade, é quase dizer “eu existo!”, já que a falta de perspectiva que experimentamos principalmente na década de 90 nos excluiu – e ainda exclui – de qualquer bem estar social. Porém, este poder marginal torna-se muito menos sedutor se pudermos elevar a escolaridade dos jovens e dar-lhes trabalho, condições materiais para que possam fazer aquilo que gostam. Esse é nosso desafio, lançaremos aqui em dois pequenos textos, dados e fatos históricos para a defesa de uma tese polêmica, elaborada pelo professor Márcio Pochman (Pres. do IPEA): a de adiar a entrada do jovem no mercado de trabalho.

Juventude, um conceito em permanente mudança

Ao longo dos séculos, a humanidade se defronta com um problema fundamental: como intervir na natureza para dela retirar os meios necessários à sobrevivência e ter tempo para o gozo das coisas boas, como família, lazer etc. No capitalismo a maior parte das pessoas precisa vender sua força de trabalho para sobreviver - digo sobreviver e não viver bem que é muito diferente. Não necessariamente o que um trabalhador produz é dele ou pode ser por ele comprado, esta relação tensa entre produção coletiva das riquezas e apropriação privada das mesmas caracteriza o capitalismo e a luta de classes.

No passado, nas sociedades agrárias, as pessoas começavam a trabalhar muito precocemente, era normal crianças com 5 e 6 anos de idade trabalharem muitas horas. Além disso, trabalhava-se de 16 a 18 horas por dia, 112 horas semanais durante quase todos os 365 dias do ano, o que dava uma jornada de trabalho anual de 4 mil horas. A conseqüência natural é que a expectativa de vida ficava abaixo dos 40 anos, portanto, o trabalho consumia mais de 70% da vida humana. Se para nós hoje uma pessoa de 25 anos é considerada jovem, a cerca de 200 anos atrás era velha, já que não passaria dos 35 a 40 anos de idade.

Na sociedade industrial, principalmente nos últimos cem anos, as coisas mudaram bastante. Graças às lutas dos trabalhadores foram criadas diversas leis de proteção ao trabalhador e serviços públicos, não se trabalha mais até morrer e não se pode trabalhar como adulto antes dos 15 anos. O Estado foi obrigado a financiar a inatividade dos que precisam se dedicar ao estudo até os 15 anos de idade e dos que precisam descansar a partir dos 65 anos. Simultaneamente a estas leis de proteção, a jornada de trabalho diminuiu consideravelmente, hoje trabalhamos 44 horas por semana com direito a férias e feriados, 276 dias por ano ou 2 mil horas por ano, 45% do tempo de vida.

A expectativa de vida passa dos 70 anos no Brasil e em vários países passa dos 80 anos, é possível que em algumas décadas o mundo alcance uma expectativa de vida de 100 anos, portanto, em muitos países já se abandonou o conceito de juventude de 14 a 25 anos, uma pessoa com até 35 anos pode ser considerada jovem. Em síntese, este conceito é mutável e está ligado diretamente à expectativa de vida das pessoas.

Vivemos uma transição da sociedade industrial para a chamada sociedade do conhecimento, construímos tecnologias suficientes para reduzir ainda mais o tempo de trabalho humano por sua sobrevivência. Portanto, não é absurdo falar em 25 horas semanais de trabalho, durante 200 dias do ano, consumindo apenas mil horas anuais e, mais ainda, adiar a entrada dos jovens até 25 anos no mercado de trabalho, financiando sua inatividade para que se dediquem exclusivamente ao estudo e façam uma correta transição dos estudos para o trabalho, ocupando de maneira mais qualificada os postos de trabalho.

Educação e trabalho

A luta pela sobrevivência tem obrigado milhares de jovem a se lançarem no mercado de trabalho sem a menor formação e pior, ao começar a trabalhar, a maioria para de estudar por não conseguir acompanhar as duas coisas. No Brasil, cerca de 5,7 milhões de jovens entre 14 e 17 anos estão fora do ensino médio, isso é mais da metade dos jovens nesta faixa etária. Temos hoje cerca de 20 milhões de brasileiros que não completaram o ensino médio. Já quanto ao analfabetismo funcional, ou seja, jovens entre 15 e 24 anos com menos de 4 anos de estudos, chega-se a 22%  - no Nordeste este número atinge 40%. As barreiras educacionais são tão grandes que a cada dez jovens somente seis estudam neste momento no Brasil. Apenas 13% dos jovens entre 20 e 24 anos estão na universidade, enquanto que nas economias mais avançadas esta taxa é três vezes maior.

Outra barreira que nos desafia é o analfabetismo tecnológico e estes não estão ligados somente a indicadores escolares, aqui devemos valorizar o esforço do governo brasileiro em retomar o papel da Telebrás com o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), tão atacado pela mídia por conta de seus interesses, de suas relações promíscuas com as operadoras de telefonia.

Agora, vejam que a postergação da entrada no mercado de trabalho até o 25 anos já existe para as famílias de classe média e ricas. A cada dez jovens da classe média apenas três trabalham e estudam, mas estes últimos só começam a trabalhar a partir dos vinte anos, até esta idade dedicam-se exclusivamente ao estudo, não somente o formal, mas fazem vários tipos de cursos, como línguas e informática. Já nas famílias pobres, a relação é inversa: para cada dez jovens pobres no Brasil sete trabalham e começam antes mesmo de completar os 18 anos e, destes sete, a metade abandona a escola.

É uma crueldade o que faz o nosso sistema educacional. Ele produz e reproduz a desigualdade gerando um ciclo vicioso perverso, o jovem rico estuda até os 25 anos e isto lhe ajuda a ocupar os postos mais qualificados no mercado de trabalho, o jovem pobre em nome da sobrevivência começa a trabalhar mais cedo, naturalmente por não ter algum tipo de formação, aceita o trabalho que lhe é oferecido, com baixos salários, com uma alta jornada de trabalho e total precariedade. Com isso, ele não tem tempo, muito menos dinheiro, para se formar.

A conseqüência é evidente para todos, ele continuará pelo resto de sua vida a ocupar posições precarizadas no mundo do trabalho. Esta é a famosa dualidade educacional: uma educação para os ricos pretensos dirigentes do futuro e, outra educação para os pobres os dirigidos.


No próximo texto apresentarei três ações para a construção de um plano nacional de juventude.

Ismael de Almeida Cardoso foi presidente da UBES e é membro da direção nacional da UJS.
segunda-feira, 3 de maio de 2010

Bomfim não abre mão de candidatura

Entrevistado pelo repórter Maikel Marques, da Gazeta de Alagoas, reproduzo aqui trechos da matéria publicada na Gazeta de Alagoas em sua edição da última quinta-feira, 29/04: "Ex-secretário de Cultura diz que tem cacife político suficiente para disputar o cargo de senador pela frente popular de oposição".

O advogado e ex-deputado federal constituinte Eduardo Bomfim, 60 anos, está filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) desde 1972. Orgulha-se de sua intensa militância política contra o regime ditatorial e avisa que tem cacife político suficiente para disputar o cargo de senador da República pela Frente Popular de Oposição (PTB, PDT, PMDB, PR, PCdoB, PT e PRB), que tenta desbancar do Palácio República dos Palmares o grupo tucano liderado pelo governador Teotonio Vilela Filho (PSDB).

“Não trabalho com a possibilidade de não ser candidato. Sinto que o conjunto da frente me apoia. Todas as pré-candidaturas que aí estão são legítimas, mas a minha é muito mais, por causa de minha longa militância política”, diz o ex-presidente da Fundação Cultural Cidade de Maceió quando questionado sobre a possibilidade de ser substituído pelo delegado federal José Pinto de Luna, pré-candidato do Partido dos Trabalhadores (PT).

A polêmica acerca da viabilidade de sua candidatura tem justificativa: cada um dos grupos políticos que polarizam a disputa deste ano só pode lançar dois candidatos ao Senado Federal. Mais uma vez aspirante à reeleição, o senador Renan Calheiros, líder estadual do PMDB, é nome certo na disputa deste ano. Neste caso, Bomfim ratifica a necessidade de diálogo franco com os oposicionistas para a escolha da segunda candidatura.

Bomfim não cogita a possibilidade de ter que se curvar à conveniência de seus aliados, caso estes escolham o delegado Pinto de Luna, uma novidade no PT, para dividir o palanque com o influente Renan Calheiros. “Sequer cogito a disputa de outro cargo”, avisa.

O ex-secretário municipal de Cultura aproveita ainda o momento de indefinição dos seus corregilionários para analisar o perfil dos adversários. Ontem em entrevista à Gazeta, falou sobre o deputado federal Benedito de Lira (PP), até dias atrás pré-candidato ao Senado pelo “chapão”.

“O partido dele está no campo do presidente Lula, mas ele acaba de se mudar para o do governador Téo Vilela. É impossível estar de um lado e pedir votos do outro. Essa mudança é um equívoco político. Eu a respeito, mas avalio sua necessidade de ter que negociar ou dividir o mandato de senador”, observou Bomfim. Meticuloso no emprego do verbo, preferiu não associar a “fuga” de Benedito a um possível gesto traiçoeiro.

Ele também surpreende ao revelar diálogo com o prefeito Cícero Almeida (PP), mediante observação de duas testemunhas. “Não tenho como cobrar nada de agora em diante, mas ele me disse que poderia até votar em mim caso o Benedito vá para o outro lado”, avisou.

Governo do Estado

Eduardo Bomfim também não poupa críticas ao grupo que administra o Palácio República dos Palmares. Diz que a cúpula do atual governo criou problemas estruturais e prima pela inviabilidade da infraestrutura, saúde, educação e segurança pública. Reforça ainda a crença de que seu confrade Ronaldo Lessa (PDT), pré candidato ao governo, seja a solução para os problemas que castigam Alagoas.

“Lessa é desenvolvimentista. Tem visão diferenciada em relação ao Téo”, avalia o pré-candidato ao Senado, que considera a ex-ministra Dilma Roussef (PT), pré-candidata à Presidência, como “um fenômeno”, em virtude de seu desempenho satisfatório nas pesquisas de intenção de votos realizadas em todo o País. O Serra (PSDB) continua onde está desde que perdeu a última eleição para o presidente Lula”, ironiza.

PONTOS DE VISTA

Pinto de Luna: “Pinto de Luna só tem seis meses de militância”

“Existem três nomes. Pela ordem: eu, Renan Calheiros e Pinto de Luna. Todos pré-candidatos. É natural que Renan pleiteie a reeleição. É preciso construir o processo com preferência majoritária. Hoje, asseguro que tenho estas condições. Todas as candidaturas são legítimas, mas não existe nenhuma mais legítima do que a minha. Por que? Pelo meu histórico de vida política. Meu histórico de esquerda é muito conhecido. Sou militante de esquerda desde os 18 anos; vereador, deputado constituinte, quatro vezes secretário, vice-ministro da República. Não trabalho com a possibilidade de não ser o candidato ao Senado. Isso de acordo com o contexto atual. Sinto que o conjunto das frentes me apoia. Pinto de Luna [delegado da Polícia Federal] tem declarado que é este o projeto dele. Ele só tem apenas seis meses de militância. Não cogito disputar outro cargo. Minha candidatura é parte de um projeto coletivo, missão nacional de meu partido, que quer constituir bancada de senadores”.

Dilma Rousseff: “Dilma é o fenômeno. Está preparada para governar sim. Ela é leal ao governo”

“Acho que Dilma Rousseff está preparada para governar sim. É uma militante de esquerda que teve postura muito digna na prisão, durante resistência ao período de arbítrio. Tem histórico de capacidade técnica como secretária estadual e ministra. É leal e se identifica com o projeto político de inclusão social e de desenvolvimento econômico do governo federal. Ela já superou as expectativas de intenção de voto antes do previsto. A campanha da Dilma é manter o projeto do atual governo e ampliar o papel do Estado como indutor da soberania econômica e política do País. Dilma é que é o fenômeno. E não o Serra”.

José Serra: “Gostaria de ouvir o discurso do Serra dizendo que é contra a “esmola’”

“Ministro, governador de São Paulo, o Serra é pré-candidato há muito tempo. Ele é profundamente identificado com o projeto neoliberal de Fernando Henrique [ex-presidente da República]. O Serra tem o mesmo patamar de votos desde que perdeu a eleição para o Lula. Não sobe. É competente, mas não estamos discutindo competência, que é condição primeira. O que está em jogo é projeto. Aí, o debate começa a afunilar. São projetos antagônicos. Gostaria de ouvir o discurso neoliberal do Serra dizendo que é contra a ‘esmola’ da distribuição de renda. Acho este discurso pedante e arrogante e carregado de preconceito condenável”.

Téo Vilela: “O governo dele é identificado com FHC e não tem a visão do social”

“Há uma coisa que respeito nos tucanos. Eles são doutrinários. A esquerda gosta de ter uma coerência ideológica. O Téo e os quadros do PSDB são identificados com FHC. Creio que o governo dele corresponde a isso. Não tem a visão do social, do papel do Estado como indutor do desenvolvimento econômico. Criaram sérios problemas na área de infraestrutura, educação, saúde e segurança pública. Téo faz governo com problemas estruturais”.

Ronaldo Lessa: “Lessa tem visão diferenciada em relação ao governador Téo Vilela”

“Ronaldo Lessa tem a tarefa de identificar o projeto nacional de desenvolvimento no Brasil e adequá-lo aqui. Alagoas está caindo; precisa se recuperar. Nosso PIB (Produto Interno Bruto) é muito baixo. O Lessa fez um esforço muito grande [quando era governador do Estado] porque a concepção dele é de uma visão de esquerda. Não conseguiu fazer o que queria. Lessa é um nacional desenvolvimentista. Tem visão diferenciada em relação ao governador”.

Benedito de Lira: “Benedito vai ter que dividir, negociar o mandato de senador”

“A eleição dele estava garantida aqui. É uma decisão dele mudar de grupo, embora considere isso um equívoco. O partido dele está no campo do Lula, mas ele aderiu ao governo Téo Vilela por sua própria vontade. Sempre teve prestígio do governo federal, mas, de última hora, aderiu ao PSDB. Já ouvi até dizer que estaria lá e votaria, aqui, em Dilma. O suplente dele pode ser o João Tenório. Ele vai ter que dividir, negociar o mandato. É um constrangimento imposto ao partido dele. Não pode ter o discurso de que está com Lula. Ele só pensou no imediato”.

Cícero Almeida: “Disse que votaria em mim, mas não posso cobrar”

“Fui secretário de Cultura do prefeito Cícero Almeida. Quando deixei o cargo, ele me disse que, dependendo das circunstâncias, com o Benedito de Lira [atual deputado federal pré-candidato ao Senado] indo para o outro lado, ele poderia votar em mim. E há duas testemunhas da conversa. Mas não estou cobrando o apoio dele não. Não posso cobrar nada. Fui muito prestigiado. Pela sua capacidade administrativa, gostaria muito de ter o apoio dele”.

Dia do Trabalhador: trabalhar menos, para trabalhar todos

Reproduzo aqui artigo de Emir Sader publicado originalmente no site da Carta Maior - www.cartamaior.com.br em 29/04/2010

O capitalismo é o sistema econômico que mais transformou a face da humanidade até aqui – como o próprio Marx havia reconhecido no Manifesto Comunista. Porém, a estrutura central do capitalismo se articula pela separação entre os produtores da riqueza e os que se apropriam dela, entre os trabalhadores e os capitalistas.

Esse processo de alienação do trabalho – em que o trabalhador entrega a outro o produto do seu trabalho – percorre todo o processo produtivo e a vida social. O trabalhador não se reconhece no que produz, não decide o que vai produzir, com que ritmo vai produzir, qual o preço de venda do que ele produz, para quem ele vai produzir. Ele é vítima do trabalho alienado, que cruza toda a sociedade capitalista. Ele não se reconhece no produto do seu trabalho, assim como o capitalismo não reconhece o papel essencial do trabalhador na sociedade contemporânea.

A luta dos trabalhadores, ao longo dos últimos séculos foi a luta de resistência à exploração do trabalho. Esta se dá pela apropriação do valor do trabalho incorporado às mercadorias, que não é pago ao trabalhador e alimenta o processo de acumulação de capital.

Não por acaso o Primeiro de Maio, dia do Trabalhador, foi escolhido para recordar o massacre de trabalhadores em mobilização realizada em Chicago, pela redução da jornada de trabalho - uma das formas de busca de diminuição da taxa de exploração do trabalho.

Neste ano o tema central do Primeiro de Maio será o da diminuição da jornada de trabalho. A grande maioria da população vive do seu trabalho, acorda bem cedo, gasta muito tempo para chegar a seu local de trabalho, onde ficará a maior parte do seu dia, gastando muito tempo para retornar, cansada, apenas para recompor suas energias e retomar no dia seguinte o mesmo tipo de jornada. Para trabalhar de forma alienada e receber um salário que, em grande parte dos casos, não basta sequer para satisfazer suas necessidades básicas. Uma vida tão sacrificada produz todas as riquezas do país, embora não tenha o reconhecimento e a remuneração devida.

Só isso bastaria para que um dos objetivos nacionais devesse ser o da redução da jornada de trabalho. Que o desenvolvimento tecnológico não seja apropriado pelos grandes capitalistas para maximizar a taxa de lucro, mas reverta para a diminuição da jornada de trabalho, para o pleno emprego, para a melhoria das condições de trabalho da massa trabalhadora.

Que o Brasil conclua os dois mandatos de um trabalhador como presidente da República, diminuindo a jornada de trabalho!

 
Emir Sader é
pesquisador do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ.
sábado, 1 de maio de 2010

De Cara Nova!


É galera... o Blog do Naldo ta de cara nova. Agora com um novo layout mais acessível e atrativo, onde poderemos combinar o bom conteúdo com um visual aconchegante.
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Boa leitura e bom debate a todos!

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Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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