sábado, 24 de julho de 2010

Governo Obama é uma decepção total para os trabalhadores


“Uma decepção total”. É assim, sem meias palavras, que o sindicalista mexicano Ignácio Meneses, radicado na cidade norte-americana de Detroit, define o governo de Barack Obama. Apoiador do candidato democrata em 2008, hoje ele diz não ver qualquer luz no fim do túnel para o país.

Meneses representa um grupo de trabalhadores do ramo automobilístico em Detroit, chamado Intercambio Sindical, organização existente desde 1991. Na condição de um dos coordenadores do trabalho de sua entidade, ele lamenta a discriminação sofrida pelos que se organizam em sindicatos (chegam a receber salários 50% menores) e também incorpora em suas atividades o papel de ativista, em prol dos direitos dos imigrantes latino-americanos.

O sindicalista mexicano participa da terceira edição do Encontro Sindical Nossa América (ESNA), em Caracas (Venezuela), onde foi entrevistado pelos portais Vermelho e CTB. Meneses trouxe dos Estados Unidos relatos importantes sobre as consequências da crise econômica para a classe trabalhadora, expressou sua opinião sobre o caminho que deve ser seguido diante de tal cenário e explicou por que Obama, em alguns aspectos, tem sido ainda mais retrógado do que seu antecessor, George W. Bush.

Leia abaixo a entrevista:

Seu sindicato apoiou Obama em 2008. Qual sua avaliação a respeito da relação entre o atual governo e o movimento sindical dos Estados Unidos?

Eu, pessoalmente, apoiei Obama, assim como outros milhões de trabalhadores. Estávamos numa situação muito especial, pois vivíamos a administração de Bush, completamente reacionária e à direita, na qual não restava ao trabalhador norte-americano nenhuma alternativa. Foi por isso que votamos em Obama.

Depois de um ano e alguns meses na Presidência, ele é uma decepção total. Não somente foram perdidos milhões de empregos como também milhões de trabalhadores perderam suas casas e suas pensões. Temos, ainda, guerras no Iraque e no Afeganistão, além de um possível novo conflito no Irã ou na Coreia do Norte. O trabalhador norte-americano não vê uma luz no final do túnel ou qualquer esperança. Não é possível encontrar emprego. Os direitos humanos e sindicais dos trabalhadores, bem como certos direitos básicos vêm sendo negados aos imigrantes – e Obama havia prometido ajuda aos imigrantes. Prometeu, mas nada fez. Pelo contrario: houve mais deportações com Obama do que sob o governo Bush.

Acha que a situação piorou desde a eleição de Obama?

Sim, tem sido uma decepção total.

Você é também ligado a uma entidade que representa imigrantes – a “Detroit unida com os latinos”. Qual trabalho é realizado por essa organização?

Nossa organização realiza as marchas em defesa dos imigrantes, anualmente, em todos os 1º de Maio. Essas foram, somadas, as maiores marchas da história dos Estados Unidos - conseguimos nos mobilizar em 68 cidades. Em Chicago, no ano de 2006, tivemos mais de 450 mil participantes; em Detroit, 40 mil e em Los Angeles chegamos a um milhão.

Como você tem visto a ofensiva contra os imigrantes no estado do Arizona?

Essa Lei 1070, do Arizona, se assemelha muito a uma outra do século 19, chamada “Slave Act” (ou Lei da Escravidão), na qual, basicamente, se dizia que mesmo se o escravo fosse livre estava sujeito a ser detido e investigado para verificar se era escravo ou não unicamente pelo fato de ser negro. Atualmente, isso se dá com os latinos.

Se um turista da América Latina vai ao Arizona, de forma legal, e por algum problema esquece seus documentos no hotel, pode ser detido e deportado por não estar com nenhum papel. O mesmo se dá caso um cidadão tenha um sotaque diferente ao se comunicar em inglês no estado do Arizona.

Diante desse cenário e com a decepção diante do governo Obama, qual é o caminho, sob o seu ponto de vista, para os trabalhadores norte-americanos?

A educação política é um caminho. Queremos que o trabalhador norte-americano encontre por meio da educação política uma alternativa aos dois partidos políticos dominantes (Republicano e Democrata), pois ambos não representam a classe trabalhadora nos Estados Unidos. Os dois partidos estão a serviço das grandes corporações, pois cada vez que uma delas tem algum problema o Estado imediatamente atua para salvá-la. Se o governo dos Estados Unidos ou alguma corporação necessita de uma matéria-prima como o petróleo guerras são organizadas para alcançar tal objetivo. Mas, quando se reduzir o deficit publico do país promove-se cortes de gastos em serviços como Educação e Saúde.

Diante da atual crise que consequências ainda poderão ser sentidas pelos trabalhadores?

Definitivamente já temos essas conseqüências, já que milhões perderam seus empregos e suas casas. Os impostos coletados dos trabalhadores foram, em grande parte, alocados para salvar os bancos e financiar o Orçamento militar e as guerras no Oriente Médio.

Nem mesmo a nova lei da saúde pode ser considerada como algo benéfico para os trabalhadores?

Essa não é a resposta que o trabalhador necessita. O trabalhador nos Estados Unidos, ainda que tenha um seguro de saúde, precisa pagar uma porcentagem do preço das consultas médicas. Se necessita de remédios também precisa pagar – mesmo tendo seguro!

A crise atingiu os trabalhadores em seu conjunto. É possível dizer que nesse cenário os imigrantes foram os mais sacrificados ou não há diferenças substanciais?

Há diferenças. Definitivamente o trabalhador sem documentos, ilegal, foi mais prejudicado. O preconceito é muito grande e isso o forçou a viver na obscuridade, num caminho que vai desde sua casa para o trabalho e desde seu trabalho para casa, sempre às escondidas, com temor. É muito difícil para esse trabalhador fazer um passeio comum com sua família, pelo perigo de ser questionado.

Qual atividade foi mais afetada pela crise? O ramo da construção civil costuma explorar muita mão-de-obra imigrante...

O imigrante sempre faz os trabalhos mais pesados e difíceis, especialmente na agricultura. Além do mais, eles recebem muito mal e quase não têm benefícios. Mais do que isso: eles também vivem em condições muito difíceis. É comum ver 12 trabalhadores dividindo espaço num trailer – e ainda tendo que pagar um aluguel por isso.

Há também os trabalhadores dos hotéis e outras atividades associadas ao turismo, assim como os da construção.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Três pilares da campanha


Reproduzo excelente artigo do Luciano Siqueira a cerca da grande batalha que estamos inserido, as eleições.
 

Refiro-me a campanha de candidato proporcional – ou seja, no pleito atual, a deputado estadual e federal. E, obviamente, excluo postulantes que optam por comprar a preços inconfessáveis votos que lhe darão o mandato. Falo de candidatos de raízes e compromissos populares.

 

Isto posto, que “pilares” são esses? Sem querer defender tese nem ensinar nada a ninguém, revejo as tantas campanhas que já se passaram em minha vida militante, sendo eu candidato ou não, e chego à conclusão de que ideia, coragem e emoção são essenciais a uma campanha bem sucedida. (Além de materialmente bem lastreada, como deve ser toda campanha).

Vamos por parte. Primeiro que tudo é preciso sustentar um discurso correto, consistente e compreensível pelas parcelas do eleitorado que constituem o público alvo da candidatura. Isto quer dizer uma plataforma onde estejam assinalados os principais compromissos do candidato – que, no caso dos comunistas, se inspira na orientação geral do Partido, contida nas resoluções do último Congresso e em diretrizes mais recentes. Uma espécie de fusão da proposta nacional com bandeiras que expressam a realidade local. Mais: unir em torno dessa plataforma, alguns milhares de militantes e apoiadores.

Assim se faz possível uma campanha aguerrida, corajosa, ousada na busca do apoio popular. Mobilizando as pessoas das mais diversas formas, através de pequenas, médias e grandes ações. Nos territórios delimitados para a campanha, onde se concentra a presumível base social e política da candidatura, disputar o voto palmo a palmo – da porta da fábrica às cinco da matina ao fim de noite nos bares frequentados pela galera mais esclarecida.

E emoção, muita emoção. Você lembra de algo verdadeiramente importante na vida que não lhe emocione? Se não lhe toca a sensibilidade é porque não é importante ou você ainda não se apercebeu da importância que tem.

A disputa eleitoral é evento decisivo em nossas vidas, pelas consequências para o futuro mediato do País e de nossa aldeia. Bote importância nisso. Demais, quem ocupa o posto de candidato e os que formam os destacamentos do exército na briga pelo voto não alcançarão o objetivo se não se deixarem contaminar pela consciência do papel histórico que cumprem. E o entrelaçamento com a própria saga do nosso povo, a certeza de que estamos continuando a luta de muitos que em diferentes fases de nossa História alevantaram nossas bandeiras rubras e verde-amarelas, muitos sacrificando a própria vida e tingindo com o seu sangue generoso o solo de nossa terra.

O candidato não representa a si mesmo, é intérprete dos propósitos do Partido e de milhares que se aglutinam na peleja. E a campanha, assim concebida, se traduz num imenso ato coletivo de amor e de confiança no povo.

Convergência de ideias, determinação combativa e entusiasmo e alegria dão, assim, o sentido e o colorido da luta. E a possibilidade de êxito.


* Médico, vereador em Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
sábado, 3 de julho de 2010

Copa do Mundo: A milionária guerra extra-campo


A Copa do Mundo de 1970, no México, foi a primeira da parceria entre a Fifa e a Adidas. Desde então, o torneio vem cada vez mais se tornando um rentável produto, muito aproveitado por várias empresas. No mundial seguinte, em 1974, na Alemanha, não foi só no futebol que a Holanda revolucionou. Foi também na camisa laranja, que a Adidas estampou suas três listras no ombro, marca registrada da empresa alemã, o primeiro patrocínio no uniforme em Copas do Mundo. 
Na Copa seguinte, em 1978, na Argentina, a empresa fechou parceria com a seleção canarinho e também instituiu as três listras características nos ombros brasileiros. Nos mundiais seguintes, os patrocínios começaram a ficar mais comuns e com contratos cada vez mais rentáveis às seleções. As empresas tinham altos retornos com a visibilidade de suas marcas, além também de terem o direito de vender as camisas oficiais das seleções para o torcedor. 
Na Copa de 1982, na Espanha, o Brasil estampou apenas o logo do Café do Brasil, uma propaganda governamental que nada tinha a ver com patrocínio. Em 1986, no México, foi a primeira vez que o Brasil estampou realmente uma marca em sua camisa, com nome e símbolo cravado no peito direito. A pioneira foi a nacional Topper. Na Copa seguinte, a marca continuou com o Brasil. Em 1994, no ano do tetracampeonato, a Umbro foi quem teve seu nome evidenciado na camisa campeã do mundo. 
Foi na Copa do Mundo de 1998, na França, em que aconteceu a grande revolução. A Adidas, que até então era soberana no futebol, começou a ter seu legado ameaçado pela Nike. O carro chefe da companhia americana, para chegar balançando as estruturas do futebol foi justamente a seleção brasileira. Além da equipe, a Nike também tinha contrato com o melhor jogador do mundo da época, Ronaldo. 
Desde então, Adidas e Nike disputam com unhas e dentes as principais seleções e atletas do mundo. Na Copa do Mundo da África do Sul, foram doze as seleções patrocinadas pela Adidas, enquanto a Nike entrou com apenas oito. 
É curioso reparar como as empresas competem nos diferentes mercados. Enquanto a Nike patrocinava o Brasil, a Adidas pegou a Argentina. Outros países que fazem divisa e competiram com marcas diferentes na camisa foram México e Estados Unidos, o primeiro com a Adidas e o segundo com a Nike. Na Península Ibérica, os americanos patrocinaram a seleção portuguesa, enquanto os alemães ficam com os espanhóis. Na Ásia, Japão e Coreia do Sul vestiram Adidas e Nike, respectivamente. 
E a disputa não se limita às camisas das seleções. Os jogadores também servem de outdoores ambulantes para as grandes marcas. Pelo lado da Adidas, craques como Messi, Lampard, Gerrard e Kaká. A Nike não fica atrás e atacou com Cristiano Ronaldo, Rooney, Henry e Robinho. 
Porém, poder nem sempre é sinônimo de sucesso. Mesmo com toda a força das duas gigantes, quem levou a última Copa do Mundo, em 2006, foi a Puma com a Itália. Apesar de ser a empresa esportiva mais valiosa, a Nike só teve sua marca estampada em um jogador com o troféu mais desejado do futebol, em 2002, com o Brasil. 
Quem será que leva, dessa vez?
Fonte: Revista Brasileiros, com atualização do Vermelho
sexta-feira, 2 de julho de 2010

Um vice improvisado para José Serra


A novela do vice do candidato oposicionista José Serra (PSDB) chegou ao fim dando a nítida impressão de improvisação e falta de alternativa. A tentativa tucana de impor uma chapa puro sangue, com o senador paranense Álvaro Dias, foi o estopim da mais recente crise na campanha de Serra, e o DEM quase rachou o núcleo da aliança da direita, formada justamente por estes dois partidos.

Depois de muita conversa entre os cardeais dos dois partidos, a solução saiu com a grife do ex-prefeito carioca Cesar Maia: o desconhecido deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ). Foi uma decisão arriscada mas a pergunta é: havia outra? Um sinal claro das dificuldades foi o comentário do jornalista Merval Pereira, que não morre de simpatias por Lula ou Dilma. Em sua coluna em O Globo ele chamou a escolha de "jogada marqueteira" pois a história de Índio Costa "não tem a menor consistência para alçá-lo ao segundo posto mais importante na hierarquia política do país". E, além disso, é suspeito de envolvimento em irregularidades investigadas pela CPI da Merenda Escolar da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.

Por uns minutinhos a mais na televisão, o PSDB e José Serra renderam-se às imposições do DEM, partido que vive um declínio acelerado (carcomindo, como se dizia antigamente). E que precisa de um cargo visível, como a vice-presidência da República, para tentar uma sobrevida disfarçado de "novo", "força jovem" e imagens semelhantes. É preciso saber se os políticos de sua base, os muitos prefeitos que ainda controlam pelo país afora, vão aderir ao arranjo feito em hotéis de luxo de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, ou seguir seu lendário instinto de sobrevivência política, deixando a coligação nacional demo-tucana à deriva.

Além da sensação de improvisação logo no começo oficial da campanha eleitoral, José Serra vai também deixando às claras sua cara e seu programa. Na sabatina de quinta feira (dia 1), no templo dos latifundiários, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ele atacou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) com as garras dos conservadores e da direita. É movimento "que se diz de reforma agrária para na verdade usar a ideia da reforma agrária para uma mudança de natureza revolucionária socialista no Brasil", disse.

Palavras que soaram docemente, com certeza, aos ouvidos atentos daqueles que estavam no auditório da entidade dirigida pela senadora Katia Abreu (DEM-GO) e que reúne a nata dos grandes monopolistas da propriedade da terra.

Pois é, com um vice que conheceu durante o jogo do Brasil contra a Coréia do Norte, e com o qual acumula apenas uns quinze minutos de conversa, e investindo contra um movimento social como o MST, Serra está mesmo em dificuldades, agravadas pelas sucessivas pesquisas de opinião que revelam uma perda de consistência de sua candidatura inimaginável há poucas semanas.


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Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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