sábado, 18 de janeiro de 2014

Sobre o fenômeno dos “rolezinhos”

"Rolezinho" no Shopping

É correto afirmar que criatividade é uma forte característica da juventude, nos mais diversos momentos históricos ela o tem demonstrado, sempre ao lado de sua capacidade de se indignar e da constante busca pela felicidade. Nos últimos dias, os chamados “rolezinhos” escancararam diversos preconceitos em nossa sociedade, além de provocar uma série de reflexões.

Os comentários nas redes sociais, transbordando racismo e ódio de classe, e a repressão em shoppings com os jovens, filhos de trabalhadores e oriundos das periferias, merecem total repulsa, são absurdas e demonstram o medo de setores da sociedade em perder ou dividir privilégios.

Mas, será que não há espaço para os rolezinhos nos shoppings? Ou melhor, na própria sociedade de consumo gerada pelo capitalismo em escala global?

É evidente que o aumento do poder de compra e da melhoria de vida nos últimos anos, da imensa maioria dos brasileiros, ocorre porque no Brasil a luta de resistência ao projeto neoliberal conseguiu levar ao governo central forças políticas comprometidas com o desenvolvimento nacional e a distribuição da renda.

Mas, em um curto período histórico o capitalismo engendrou um processo de grande regressão das conquistas civilizacionais da humanidade, após o fim da União Soviética e com o fortalecimento da hegemonia brutal do capitalismo, se impôs ao mundo a sociedade chamada de consumo.

A implementação do neoliberalismo trouxe não só danos econômicos às nações. A dominação ideológica em torno de um pensamento único, difundido pelos grandes meios de comunicação em todo o mundo, traduzido nas mais variadas áreas, é sem dúvida uma das grandes conquistas que o grande capital obteve. Se nega à política ao povo, se nega as alternativas de sociedade, se substitui o conceito de cidadão pelo de consumidor.

Os avanços obtidos no Brasil nos últimos anos ocorrem sob esta realidade do capitalismo, são diversas as pressões que buscam a manutenção da dominação das ideias impostas pelo neoliberalismo. Podemos observar isso, por exemplo, com a substituição do hip hop e do funk com conteúdo crítico, que eleva a consciência social, pelo hip hop e o funk de “ostentação”, adorado e incentivado pelos grandes meios de rádio e difusão, categoria importada para o nosso país que tem se espalhado rapidamente.

Os jovens da periferia que viram suas famílias melhorar de vida nos últimos anos, que passaram a consumir mais, são como todos os outros jovens, estão em busca da felicidade. E onde podem encontrá-la em uma sociedade de consumo? É-nos dito que ela esta à disposição nos grandes templos do deus mercado, nos Shoppings Center.

Há espaço para o consumo dos jovens do rolezinho, justamente porque no Brasil não se reza mais a cartilha do consenso de Washington. Mas, não há espaço na sociedade de consumo criada pelo neoliberalismo, porque nela a renda é concentrada, só alguns têm o direito de consumir, os outros devem, mas não podem. Os setores acostumados com essa lógica, tão confortável para eles, não conseguem aceitar que isso mude.

O que fazer então? Devemos dizer a esses jovens que não usem seus bonés da Nike ou tênis da Adidas?

Claro que não, há muito tempo o capitalismo já excluiu e impediu que a maioria do povo tivesse acesso ao consumo. Os rolezinhos só são possíveis porque há uma luta que tem obtido conquistas no Brasil, contra o projeto neoliberal, se não, ao invés dos rolezinhos teríamos os distúrbios que ocorreram em Londres em 2011.

É preciso lutar por um projeto nacional de desenvolvimento que arranque todas as raízes que o neoliberalismo fincou em nosso país, e isso não se faz só no terreno econômico, é preciso ganhar consciência, superar o pensamento único neoliberal. Democratizar a mídia é fundamental, fazer a reforma urbana que pense as cidades para as pessoas, que permita a juventude fazer seus roles nas praças, nos cinemas, no teatro, em muitos lugares, também é fundamental.

Mas também é preciso mostrar à juventude que é possível e necessário lutar por um mundo melhor, como disse o presidente do Uruguai, Pepe Mujica, “Não permitam que lhes roubem a juventude, deve haver mais tempo para o amor e menos preocupação com o consumo, e a UJS em sua última campanha de filiação, lembrando o cantor Belchior, é preciso “Amar e Mudar as coisas”. Também é preciso lembrar Darcy Ribeiro quando dizia da originalidade e capacidade que o Brasil tem de ser uma grande nação, com um povo único e uma cultura espetacular.

O fenômeno dos rolezinhos deverá se somar a muitos outros, faz parte da luta de classes, da luta que será intensa este ano. Decididamente devemos colocar todos nossos esforços para que o Brasil possa avançar mais, que possamos impor mais derrotas ao que há de mais conservador aqui e no mundo.

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Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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