sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

2012 - 2013



Para não encerrar o ano sem escrever neste espaço, deixo alguns versos que escrevi sobre o ano que se avizinha... Não sou poeta, nem tenho o costume de escrever versos, mas me arrisco a publicar para que vocês possam dar suas opiniões.



2012 – 2013

Meu presente
Agora é passado
E como se de repente
Meu futuro
Torna-se o presente

Sonhos, desejos
Planos e esperança
Me movem para frente
Em uma ideia vaga
Que hora latente

No peito
Bate forte uma bomba
Não explode, pulsa
Bumba... bumba...
Vibra, brilha e luta

É fim e começo
É o novo e o velho
Não é mais do mesmo
Mas lá no Tabuleiro
É o mesmo endereço

Na chegada do novo
No novo que hora chega
Quero, sem vacilação
Minha princesa, amor
E claro... Revolução!
segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Meu voto é Claudia Petuba 65100



Comecei minha militância política há seis anos, percebi que se queremos viver em um mundo melhor é necessário que lutemos por ele, percebi também que não existem saídas individuais para problemas que são coletivos. Durante esse tempo em que tenho me dedicado à luta política conheci muitas pessoas que também pensam dessa forma, muitos se tornaram companheiros de luta e outros amigos pessoais. É exatamente sobre uma grande camarada e amiga que escrevo este texto.

Conheci a Claudia Petuba em 2007 durante o 50º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) que aconteceu em Brasília. Ela era militante do movimento de estudantes de Direito e estudava na FAA, eu estudava no CEFET (hoje IFAL) de Palmeira dos Índios e estava participando do meu primeiro congresso nacional, o qual tinha ajudado a construir organizando eleições para escolha dos representantes das faculdades de minha cidade. Bom, a Claudia me chamou atenção dentre a bancada de Alagoas pelo seu jeito critico, ela procurava deixar em evidência suas opiniões, mas estava decididamente interessada em conhecer mais, em ouvir as diversas visões e opiniões das correntes políticas que disputavam o congresso.

Claudia não se tornou minha amiga naquele congresso, mais sim uma companheira em muitas batalhas que se desdobraram posteriormente. Em 2008 vim para Maceió após ser eleito diretor da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), morando aqui passei a ter um contato maior com Claudia e construímos aos poucos uma amizade da qual me orgulho, marcada pelo respeito e pela camaradagem, característica dos comunistas, mais acima de tudo do ser humano quando pleno, solidário e leal.

A formação política que recebi no Partido Comunista do Brasil e na União da Juventude Socialista foi e é fundamental ao lado dos valores que recebi em casa para formação do meu caráter. Claudia também vem dessa escola política, na verdade, em muitos momentos aprendemos juntos a lutar, sempre ao lado do povo e por uma sociedade justa socialmente.

Quando discutíamos no Partido as eleições de 2010 e a necessidade de uma candidatura que apresentasse nossas ideias e disputasse a opinião da população, chegamos ao consenso do nome da Claudia para tal tarefa, ela aceitou o desafio e fizemos naquela eleição uma campanha entusiástica, ela provou à muitos que é possível fazer campanha debatendo com o povo e apresentando propostas, mesmo com as imensas dificuldades que foram enfrentadas, milhares de pessoas votaram e confiaram na Claudia.

Tive a oportunidade de coordenar em Alagoas, junto com a Claudia, a campanha de nossa chapa ao 52º Congresso da UNE em 2011, eu enquanto presidente estadual da UJS e ela enquanto nossa diretora da UNE. Os dias vividos e os desafios enfrentados nessa vitoriosa campanha tiveram um significado muito especial para mim, era a primeira campanha que coordenávamos para um congresso, aprendemos muito nesse período.

Decidi escrever um pouco sobre minha convivência com Claudia Petuba em função da batalha que estamos atravessando atualmente, trata-se do importante momento das eleições municipais onde a população irá eleger novos vereadores e o prefeito de Maceió. E Claudia é lançada em mais um desafio, é candidata com o número 65100. Acredito que a Câmara de Vereadores precisa ser o palco das grandes questões da cidade e não apenas de detalhes, a casa legislativa precisa debater os problemas concretos do nosso povo, pensar Maceió e projetar nossa cidade para o futuro. Eu, não tenho dúvidas que Claudia levará esse debate para a Câmara, ela será uma representante dos interesses populares, lutará para garantir uma vida melhor para nossa gente. Posso afirmar isso, ela é assim, nasceu para lutar!
sábado, 28 de julho de 2012

64 anos: Viva a UBES!



Tenho estado ausente desse espaço. Há alguns dias começou a campanha eleitoral e esse é um período em que me envolvo bastante, sempre no sentido de fortalecer as ideias que defendo e ajudar no processo de acumulo de forças para construção de um projeto avançado de nação.

Como todos devem saber sou militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e estou mais diretamente contribuindo para que possamos eleger a jovem guerreira Claudia Petuba vereadora de Maceió. Deixarei outro momento para fazer uma postagem mais especifica sobre minhas impressões da disputa eleitoral e, claro, sobre o porquê votar na Claudia.

Mas então, o que me faz voltar a escrever nesse espaço? Pois bem, é que essa semana tem um sentido muito especial para mim e muitos outros, trata-se de uma semana em que comemoramos o aniversário de uma entidade que ao longo de sua historia tem deixado sua marca presente. O dia 25 de julho é histórico, apesar de não ser muito difundido, é um daqueles dias que merece, em minha opinião, ser feriado. Deixando de rodeios, estou falando do dia da fundação da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) que ocorreu em 1948 no endereço inesquecível para o movimento estudantil: rua do flamengo, 132, Rio de Janeiro, a histórica sede da UNE.

A UBES marcou minha vida, como marcou a de tantos outros que dedicaram um momento de sua historia para ajudar a construir a honrosa trajetória desta entidade, a qual alcançou nessa semana seus 64 anos de muita luta, resistência e conquistas. Aprendi muita coisa durante o período que tive o privilegio de ser diretor da UBES, mais teve uma coisa que me marcou muito, foi perceber o quanto são fortes os sonhos da juventude, em especial os estudantes secundaristas, a vontade de mudar, de não ter dúvida que seus sonhos são possíveis e que podem se realizar bem alí: na rua, na passeata.

Orgulho-me muito em ver a nova geração que tem construído o movimento estudantil secundarista no país. É incrível a capacidade de renovação e de formação de novas lideranças que este movimento tem. A cada dia mais jovens conhecem a luta, se apaixonam por ela e decidem fazer o que parece ser mais difícil, nestes tempos de uma ainda forte hegemonia ideológica neoliberal, eles se organizam em seus grêmios, em suas Uniões Municipais e Estaduais, vão às ruas, debatem... e assim vão construindo a UBES.

São incontestáveis as enormes contribuições que a UBES deu em seus 64 anos de existência para construção de um Brasil soberano, democrático e por uma educação de qualidade, também são inúmeros os combatentes que surgiram desta militância. A UBES é um verdadeiro berçário de lutadores.

Espero que tenhamos muitos mais revolucionários revelados na militância secundarista nos próximos 64 anos de vida e luta da UBES. Essa entidade, apaixonada pelo Brasil, ainda tem muito por fazer, e eu não tenho dúvida que se depender da disposição destes jovens, muito mais será feito!

Viva a UBES e seus 64 anos!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Vídeo mostra a vitória de Orlando Silva sobre o PIG



Oito meses depois dos ataques sem fundamento contra Orlando Silva, enfim, a verdade veio à tona. Inocentado no processo aberto pela Comissão de Ética da Presidência da República, segue sua luta por justiça. Confira vídeo produzido pela União da Juventude Socialista (UJS), que reúne momentos desse combate e mostra a força do militante comunista. Durante à tarde desta quinta-feira (14), acontece um tuitaço em homenagem a Orlando.

"Não há, não houve e não haverá quaisquer provas que me incriminem. Diferentemente do que foi publicado numa revista semanal brasileira porque fato nenhum houve que possa comprometer a minha honra”, declarou Orlando, que deixou o ministério do Esporte aplaudido de pé por uma plateia formada por pessoas do mundo da política e do esporte.


sábado, 2 de junho de 2012

Democracia, o novo fantasma dos mercados


Reproduzo a seguir um bom texto para reflexão do filosofo e psicanalista Slavoj Žižek sobre a crise e a situação da Grécia:

Por Slavoj Žižek

Imagine uma cena de um filme distópico que mostre nossa sociedade num futuro próximo. Guardas uniformizados patrulham ruas semivazias dos centros das cidades, à caça de imigrantes, criminosos e desocupados. Os que encontram, os guardas espancam.

O que parece fantasia de Hollywood já é realidade hoje, na Grécia. Durante a noite, vigilantes uniformizados com as camisas negras do partido neofascista Golden Dawn [Aurora Dourada], de negadores do Holocausto –, que receberam 7% dos votos no segundo turno das eleições gregas e que contam com o apoio, como ouve-se pela cidade, de 50% da polícia de Atenas – patrulham as ruas, espancando todos os imigrantes que cruzem seu caminho: afegãos, paquistaneses, argelinos. É como a Europa defende-se hoje, na primavera de 2012.

O problema de defender a civilização europeia contra a ameaça dos imigrantes é que a ferocidade com que os defensores europeus defendem-se é ameaça muito maior a qualquer “civilização”, que qualquer tipo de invasão de muçulmanos, e ainda que todos os muçulmanos decidissem mudar-se para a Europa. Com defensores como esses, a Europa não precisa de inimigos. Há cem anos, G.K. Chesterton deu forma articulada ao impasse em que se metem os que criticam a religião: “Homens que se põem a combater igrejas em nome da liberdade e da humanidade espantam de si mesmos a liberdade e a humanidade em nome do combate à igreja (…). Os secularistas não provocaram o naufrágio das coisas divinas; só fizeram naufragar coisas seculares… se isso lhes serve de consolo.” [1]

Tantos guerreiros liberais andam tão furiosamente decididos a combater o fundamentalismo anti-democrático, que acabam esquecendo qualquer liberdade e qualquer democracia, tudo em nome de combater o terror. Se os “terroristas” estão dispostos a destruir nosso mundo por amor a outro mundo, nossos guerreiros antiterror prontificam-se a devastar qualquer democracia, por ódio ao próximo muçulmano. Alguns deles amam tanto a dignidade humana que, para defendê-la, dispõem-se a legalizar a tortura… É a inversão do processo pelo qual os fanáticos defensores da religião começaram por atacar a cultura secular contemporânea e acabaram por sacrificar até as próprias credenciais religiosas, na ânsia de erradicar todos os aspectos que odeiam no secularismo.

Mas os defensores que insistem em defender a Grécia contra imigrantes não são o principal perigo: não passam de subproduto do perigo muito maior: as políticas de austeridade que causaram a desgraça da Grécia. As próximas eleições na Grécia estão marcadas para dia 17 de junho. O establishment europeu alerta que são eleições cruciais: não estaria em jogo só o destino da Grécia, mas o destino de toda a Europa. Um resultado – o correto, segundo eles – levará ao processo doloroso mas necessário de recuperação. A alternativa – no caso de vitória do Partido Syriza, de “extrema esquerda” – seria votar pelo caos, pelo fim do mundo (europeu) como o conhecemos.

Os profetas do apocalipse estão corretos, mas não como supõem ou pretendem. Críticos dos arranjos democráticos hoje vigentes reclamam que as eleições não oferecem opção real: votamos para escolher apenas entre uma centro-direita e uma centro-esquerda cujos programas são quase absolutamente idênticos. Mas dia 17 de junho, afinal, haverá escolha significativa: de um lado o establishment (Nova Democracia e Pasok); do outro lado, a Coalizão Syriza. E, como acontece quase sempre em que há escolhas reais no mercado eleitoral, o establishment está em pânico: caos, pobreza e violência eclodirão imediatamente, dizem, se os eleitores escolherem “errado”. A mera possibilidade de vitória da Coalizão Syriza, como se ouve, já dispara convulsões de medo nos mercados. A prosopopéia ideológica é rampante: os mercados falam como se fossem gente, manifestam “preocupação” pelo que acontecerá se as eleições não produzirem governo com mandato para manter o programa de austeridade e reformas estruturais de UE-FMI. Os cidadãos gregos não têm tempo para pensar nas preocupações “dos mercados”: mal conseguem ter tempo para preocupar-se com a sobrevivência diária, numa vida que já alcança graus de miséria que não se viam na Europa há décadas.

Grécia não é exceção. Lá se testa um novo modelo socioeconômico:
uma tecnocracia despolitizada, na qual banqueiros
e outros especialistas ganham carta branca para demolir a democracia
Todas essas são previsões enunciadas para se autocumprirem, causar mais pânico e, assim, forçar as coisas a andarem na direção “prevista”. Se a Coalizão Syriza vencer, o establishment europeu ficará à espera de que nós aprendamos com nossos erros o que acontece quando alguém tenta interromper, por via democrática, o ciclo vicioso de cumplicidade bandida, entre os tecnocratas de Bruxelas e a demagogia suicida do populismo anti-imigrantes.


Foi exatamente o que disse Alexis Tsipras, candidato da Coalizão Syriza, em entrevista recente: que sua prioridade absoluta, no caso de sua coalizão vencer as eleições, será conter o pânico: “Os gregos derrotarão o medo. Não sucumbirão. Não se deixarão chantagear.”

A tarefa da Coalizão Syriza é quase impossível. A coalizão não traz a voz da “loucura” da extrema esquerda, mas a voz do falar racional contra a loucura da ideologia dos mercados. No movimento de prontidão para assumir o governo da Grécia, já derrotaram o medo de governar, tão característico entre a esquerda; já mostraram que não temem fazer a faxina do quadro confuso que herdarão. Terão de mostrar-se capazes de montar e cumprir uma formidável combinação de princípios e pragmatismo; de compromisso democrático e presteza para intervir com firmeza onde seja preciso. Para que tenham uma mínima chance de sucesso, precisarão de toda a solidariedade dos povos europeus; não só de respeito e tratamento decente pelos demais países europeus, mas, também, de ideias mais criativas – como a de um “turismo solidário” nesse verão, que já propuseram.

Em suas Notes towards the Definition of Culture, T.S. Eliot [2] observou que há momentos em que a única escolha é entre a heresia e o não crer – ou seja., quando o único meio para manter viva uma religião é promover uma divisão herética. Essa é, hoje, a posição em que está a Europa. Só uma nova “heresia” – representada hoje pela Coalizão Syriza – pode salvar o que valha a pena do legado europeu: a democracia, a confiança nas pessoas, a solidariedade igualitária etc. A Europa que haverá para nós, se a Coalizão Syriza for descartada, é uma “Europa com valores asiáticos” – os quais, é claro, nada têm a ver com a Ásia, e tem tudo a ver com a tendência do capitalismo contemporâneo, para suspender a democracia.

Eis o paradoxo que mantém o “voto livre” nas sociedades democráticas: cada um é livre para escolher, desde que faça a escolha certa. Por isso, quando se faz a escolha errada (como quando a Irlanda rejeitou a Constituição da União Europeia), a escolha é tratada como erro; e o establishment imediatamente exige que se repita o processo “democrático”, para que o erro seja reparado. Quando George Papandreou, então primeiro-ministro grego, propôs um referendo sobre a proposta de resgate que a eurozona apresentara no final do ano passado, até este foi descartado como falsa escolha.

Há duas principais narrativas na mídia, sobre a crise grega: a narrativa alemã-europeia (os gregos são irresponsáveis, preguiçosos, gastadores, não pagam impostos, etc.; e têm de ser postos sob controle, com aulas de disciplina financeira); e a narrativa grega (nossa soberania nacional está ameaçada pelo tecnologia neoliberal imposta por Bruxelas). Quando se tornou impossível ignorar o suplício do povo grego, emergiu uma terceira narrativa: os gregos estão sendo apresentados hoje como vítimas de desastre humanitário, carentes de ajuda, como se alguma guerra ou catástrofe natural tivesse atingido o país. As três são falsas narrativas, mas a terceira parece ser a mais repugnante. Os gregos não são vítimas passivas. Os gregos estão em guerra contra o establishment econômico europeu. Precisam de solidariedade nessa luta, porque a luta dos gregos é a luta de todos nós.

A Grécia não é exceção. É mais uma, dentre várias pistas de testes de um novo modelo socioeconômico de aplicação quase ilimitada: uma tecnocracia despolitizada, na qual banqueiros e outros especialistas ganham carta branca para demolir a democracia. Ao salvar a Grécia de seus ditos “salvadores”, salvaremos também a Europa.

__________
[1] CHESTERTON, Gilbert K., Orthodoxy [1908], “VIII: The Romance of Orthodoxy”, em http://www.leaderu.com/cyber/books/orthodoxy/orthodoxy.html (ing.) [NTs].
[2] ELIOT, T. S. Notas para uma definição de cultura. Lisboa: Século XXI, 1996.

Fonte inicial: London Review of Books

Tradução: Vila Vudu

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Código Florestal: os vetos de Dilma


A correria da construção dos congressos da UJS acabou me deixando sem postar novidades aqui. Mas para não deixar esse espaço parar reproduzo a seguir o editorial do Portal Vermelho do dia 31 de maio sobre os vetos da presidenta Dilma no Código Florestal:

O debate sobre o novo Código Florestal entrou em outro patamar após o anúncio dos vetos da presidente Dilma Rousseff: ficaram mais explícitos os motivos das resistências contra as mudanças que, antes, vinham embalados na tese da defesa do meio ambiente.

De um lado estão o agronegócio e seus representantes no Congresso Nacional, em geral políticos de direita, que expõem as razões econômicas de sua oposição e a defesa dos interesses dos grandes empresários rurais. Alegam, principalmente os prejuízos que a obrigação de restaurar áreas que foram desmatadas antes de 22 de julho de 2008, afetando a rentabilidade empresarial com – dizem – impacto no custo de vida.

Do outro lado, muitos ambientalistas apegam-se ao “Veta, Dilma”, compreendido de forma estreita como a rejeição completa do Código Florestal, deixando o país sem um marco legal atualizado para a proteção das matas, rios e nascentes. Eles insistem na tese controversa de uma quase “intocabilidade” das matas e do meio ambiente, com reflexos negativos no desenvolvimento econômico do país.

Os cortes feitos pela presidente restauram o espírito original do Código Florestal aprovado pela Câmara dos Deputados a partir do relatório apresentado pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e modificado em diferentes pontos após a tramitação no Senado. 

A aprovação pela Câmara dos Deputados, em abril, do relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), ligado à bancada ruralista, significou um retrocesso em relação ao projeto referendado pelo Senado, originário da proposta relatada por Aldo Rebelo. As alterações promovidas pelo relator Piau desfiguraram aquela proposta que foi construída a partir de uma difícil engenharia política que  contemplou os vários pontos de vista envolvidos e criou um corpo legal capaz de amparar a produção, resguardar as exigências da proteção da natureza e defender a soberania nacional.

Entre os vetos da presidente Dilma, os ruralistas se opõem principalmente a dois. O primeiro diz respeito ao artigo 1º, desfigurado pelo relatório de Paulo Piau, que reduziu a abrangência do Código Florestal a um instrumento disciplinador da atividade rural. Dilma vetou e manteve a ideia original do Código Florestal como uma lei impositiva de proteção de florestas, rios e nascentes. 

A outra controvérsia principal diz respeito ao artigo 61, que regula as Áreas de Proteção Permanente (APPs). Um primeiro aspecto diz respeito à chamada “anistia” aos que desmataram áreas de preservação permanente até 22 de julho de 2008, e à continuidade de atividades empresariais nessas áreas eliminando, segundo o governo, “a possibilidade de recomposição de uma porção relevante da vegetação do país". Outro aspecto restringia a abrangência das áreas de recomposição de vegetação ao longo de cursos d’água. Ao vetar o artigo 61, o governo restabeleceu os critérios originários da proposta, que beneficia as pequenas propriedades de agricultura familiar exigindo delas uma recomposição obrigatória menor. E estabelece critérios mais rigorosos de recomposição das matas à beira de cursos d’água para propriedades médias e grandes.

Outro corte importante feito pela presidente fortaleceu a exigência do Cadastro Ambiental Rural, amenizada pelo relatório Piau. O projeto de Código Florestal aprovado pela Câmara e referendado pelo Senado previa a obrigação deste cadastramento para a regularização ambiental e também para a obtenção de crédito agrícola. O relatório Piau amenizou a exigência, abolindo-a como condição de acesso ao crédito agrícola; em consequência, esta exigência passava literalmente a ser letra morta. A formação de um cadastro nacional das propriedades fundiárias vem sendo tentada desde o Império, pois é um registro necessário para o conhecimento da situação das terras no país, principalmente das terras devolutas, que são propriedade pública. É um instrumento regulador do qual os latifundiários sempre fugiram, o que explica a rejeição contra esta exigência por parte da bancada ruralista e do relator Paulo Piau.

Os cortes da presidente Dilma ao Código Florestal aprovado pela Câmara dos Deputados em abril não encerram os debates sobre a matéria, mas recolocam a disputa num outro nível onde ficam expostos os interesses em jogo. 

As forças progressistas precisam estar atentas à nova etapa do debate. Desenvolvimento sustentado com proteção das florestas e da natureza – esta é a consigna que precisa ser defendida. Nem santuarismo nem produtivismo predatório, mas a equilibrada adequação entre as necessidades da produção, a defesa do meio ambiente e o respeito à soberania nacional. A proposta original de um novo Código Florestal, que começou a ser elaborada na Câmara dos Deputados em 2008, estava baseada neste tripé. E é ele que precisa continuar orientando o debate daqui para a frente.


31/05/2012
Editorial do Portal Vermelho
domingo, 13 de maio de 2012

Correia da Fonseca: Empobrecer, dizem


Tenho me esforçado para acompanhar os debates em torno da atual crise do capitalismo, bem como as consequências das medidas que os países, em especial, europeus vêm tomando. Reproduzo a seguir texto do jornalista e escritor português, Correia da Fonseca, onde com justa ironia nos relata um destes debates. Confiram:

Quando o pensamento económico dominante se exprime com franqueza é compreensível: por exemplo quando confirma que a alternativa a um desenvolvimento económico baseado na defesa do interesse nacional – que nada lhe interessa – só pode ser, no actual quadro, o do empobrecimento generalizado. Para que sejam preservados os privilégios e a riqueza de meia-dúzia.

Foi num dos muitos debates que atafulham os tempos de antena dos canais ditos informativos. Falava-se então do pequenino escândalo político consubstanciado na declaração que Vasco Lourenço lera em nome da Associação 25 de Abril, reforçado pela ausência dos “capitães” e também de Mário Soares na sessão solene havida na Assembleia da República. Como de costume, as opiniões dividiam-se, embora não muito radicalmente, o que também não é raro. E foi nesse quadro que Miguel Sousa Tavares, para sublinhar a legitimidade do actual governo independentemente do acordo que as políticas por ele adoptadas possam ou não merecer, lembrou que ele surgiu na sequência de eleições democráticas e livres: “– A democracia é isto!”, disse. Entendia-se, é claro: o povo votara em liberdade e dos resultados eleitorais haviam resultado uma maioria parlamentar e um governo, este. Miguel ter-se-á esquecido de que Hitler foi eleito assim. Um bom exemplo. Para reflectir.

Um pouco paralelamente, sucedeu que num outro debate acontecido em qualquer dos tais canais, com a economia, as finanças e a crise como temas, alguém evocou com nostalgia os tempos em que a independência financeira de um país, concretizada no facto de possuir moeda própria, permitia a manobra financeira de desvalorização da moeda. Entre as consequências dessa medida avultava o facto de as importações se tornarem mais difíceis, porque mais caras, e as exportações um pouco mais fáceis, porque mais baratas para o país que as recebesse e pagasse. O resultado positivo do conjunto desses dois efeitos sobre as balanças comercial e de pagamentos é óbvio, não é preciso explicitá-lo, e percebe-se que seja uma pena que, tendo abdicado de moeda própria e do direito de estabelecer barreiras aduaneiras, Portugal esteja impedido de usar essas defesas. Mas já então uma outra voz se levantava no contexto do debate e explicava que, na falta dessas armas perdidas, era preciso adoptar uma outra. Essa de nome assustador: empobrecer.

Entende-se. Se o País está mais pobre, maneira de dizer que está mais pobre a generalidade das gentes que o habitam, a coisa resulta nas duas consequências acima apontadas. Por um lado, os seus habitantes empobrecidos vão deixar de poder adquirir bens vindos do estrangeiro, o que reduz o valor global das importações com efeitos benéficos na balança de pagamentos. Por outro lado, se a pobreza for consequência da redução ao mínimo dos salários pagos pelos produtores nacionais, o custo da mão-de-obra assim reduzido permite que as empresas exportadoras coloquem os seus produtos nos mercados externos com preços mais baixos, o que, podendo intensificar as exportações, ajuda a redução dos défices comerciais e de pagamentos. De tudo isto resulta que a pobreza, que desde tempos imemoriais já era considerada muito conveniente para a salvação das almas, pois bem se sabe que o sofrimento facilita a entrada no Paraíso, passa a ser também recomendada como panaceia para as violentas maleitas económico-financeiras que açoitam o nosso quotidiano.

Tudo bem, pois: já que não temos moeda para desvalorizar, empobreçamos. Mas quem deve empobrecer? Os participantes no debate televisivo não o explicitaram, mas talvez se sentissem dispensados de o fazer porque a resposta à pergunta está diariamente a ser dada perante os nossos olhos: quem deve pagar esse peculiar preço do empobrecimento são os que já são pobres (porque, enfim, já estão habituados, é só questão de sofrerem um pouco mais) ou os que já estão muito perto da pobreza cuja vinda há muito pressentem (e, portanto, não terão o sofrimento da surpresa). Quanto aos que, felizmente, estão bem instalados na vida, é claro que não se pode pedir-lhes que empobreçam. Em primeiro lugar, porque seria para eles um grande choque. Em segundo lugar, porque o País precisa de se mantenham por aí grandes ou mesmo médias fortunas. Para o investimento. Nas bolsas, é claro, não em actividades produtivas que dão muito trabalho e são arriscadas. Em terceiro lugar porque eles não deixam, e por isso sempre providenciam para que haja “ordem nas ruas e nos espíritos”. Para que a pobreza venha, se avolume, inche como os ventres das crianças esfomeadas. E, dizem, salve o País. Isto é: os salve.

sábado, 12 de maio de 2012

Eduardo Bomfim: Um mundo melhor

Reproduzo artigo do Camarada Eduardo Bomfim:

Durante o século XX muitos das gerações que sucederam umas às outras tinham como pressuposto ético de vida pensar o mundo para melhor. Uns lutavam por transformações econômicas, sociais, radicais, outros desejavam reformá-lo, vários pensavam que ele já estava de boa medida, tratava-se apenas de ajustá-lo no que fosse possível.

Em uma visão simplista poderíamos definir essas tendências como revolucionárias, reformistas ou conservadoras, apesar do surgimento de fenômenos como o nazi-fascismo, durante os anos vinte aos quarenta, subproduto dos conflitos pela hegemonia capitalista-imperialista, ensejando a Segunda Guerra Mundial.

Mas no geral os confrontos políticos, filosóficos, ideológicos, teológicos, giravam sempre sobre a questão: como poderia ser esse mundo menos injusto, qual a maneira para aperfeiçoá-lo ou transformá-lo ?

No final do século vinte, com a débâcle do campo socialista ocidental, especialmente a URSS e o leste da Europa, pari passu ao movimento de centralização, concentração do capital financeiro mundial em escala mais agressiva, acontece uma inflexão profunda na geopolítica, na economia, nos conceitos gerais das sociedades como decorrência desse processo.

Pensadores marxistas definiram esse período da História surgido ao final do século como um "tempo inicial de sombras e trevas" que transcendia o aspecto da luta pela emancipação dos trabalhadores, estendia-se ao conjunto da atividade humana em todos os seus aspectos.

A vida mostrou que se tinha razão, nasce o pensamento único hegemônico imposto à base de um paradoxo, uma sociedade totalitária governada sob regras discricionárias, combinada com um individualismo sem fronteiras como princípio e fim da vida moral.

Entroniza-se assim outro conceito para as gerações, já não se trata de construir um mundo melhor como espírito ético da civilização, mas como, nessa ânsia hedonista infinita, o indivíduo realiza o melhor dos mundos para si próprio.

E se há novas vocações políticas, então que elas se realizem através de uma agenda social global unificada, pré-definida, nos marcos do sistema.

Mas as contradições estruturais do capital reaparecem em meio à brutal crise demonstrando a face totalitária, a exaustão econômica, um enorme cansaço social à ordem e à ideologia "globalizada", indicando que a alternativa a esse modelo de sociedade é mesmo a luta por um mundo melhor.

* Advogado, Presidente do PCdoB em Alagoas e membro do Comitê Central.
terça-feira, 8 de maio de 2012

Aquecimento global: as previsões furadas de Lovelock


A ideia do Aquecimento Global parece que não é mais tão conveniente como antes, será mais um dos efeitos da crise do capitalismo? Bom, recomendo esse ótimo artigo do camarada José Carlos Ruy:
e a Terra não esquentou...

Por José Carlos Ruy 

James Lovelock é um dos gurus da tese segundo a qual o aquecimento global, provocado pelo homem, vai esturricar a Terra. Agora, diz que estava errado. Um erro de consequências políticas monumentais.

James Lovelock é um dos principais ideólogos do catastrofismo ambiental em nossos dias e um dos gurus do movimento ambientalista. Autor de inúmeros livros, formulador da hipótese Gaia, que vê a Terra como se fosse um enorme organismo, ele é um cientista influente que chegou a prever a morte de bilhões de pessoas devido às mudanças climáticas que, em sua opinião, iriam esturricar o planeta. Foi um dos formuladores da tese de que a mudança climática decorre da ação humana sobre o ambiente. 

Ele chegou a propor, em 2004, que o que restasse da humanidade só conseguiria viver no Ártico, onde o clima continuaria “tolerável”. E pregava, na linha do mais radical ambientalismo, a necessidade de um “melhor uso dos recursos” da Terra e isto significava, desde as reuniões do Clube de Roma, em 1968, e da ONU em Estocolmo, 1972, a contenção do desenvolvimento da economia. Isto é, contenção do desenvolvimento econômico dos países pobres, para, usando palavras de Lovelock, “sustentar a civilização o máximo de tempo” possível. A palavra “civilização” esconde, nesta frase, aquilo que realmente seu autor quer dizer: os países ricos e o modo de produção capitalista. 

Lovelock é, assim, um dos principais – se não o principal – defensores da tese de que o aquecimento global decorre da ação humana. Na verdade, era. Numa entrevista ao site da rede norte-americana MSNBC, em 23 de abril passado, o cientista britânico, de 92 anos de idade, renegou o catastrofismo climático e ambiental e admitiu que exagerou. Reconheceu, sem rodeios: "Tudo bem, cometi um erro."

Naquela entrevista ele disse que o comportamento do clima da Terra desde o ano 2000 contrariou suas previsões mais pessimistas; admitiu que os estudos a respeito são insuficientes, faltando mais pesquisas para entender o futuro do planeta. Reconheceu ter ido “longe demais na extrapolação” sobre o aquecimento global, quando deveria ter sido mais cauteloso. "O problema é que não sabemos como o clima atua, embora achássemos que sabíamos 20 anos atrás. Isso levou à publicação de livros alarmistas, inclusive os meus", disse. 

Além de sua própria postura catastrofista, Lovelock acusa também o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore e seu filme Uma Verdade Inconveniente como exemplo do alarmismo ambientalista.

"O clima continua fazendo os seus truques de sempre. Não tem nada de muito emocionante acontecendo agora. Deveríamos estar a meio caminho de fritarmos", mas não é isso que está acontecendo, disse. Ele estranha o fato de que a temperatura global da Terra não tenha aumentado nos últimos 12 anos, embora os níveis de gás carbônico (ou dióxido de carbono) na atmosfera, demonizado como o principal gás do efeito estufa, continuem subindo e batendo recordes. O aquecimento previsto para os 12 anos seguintes a 2000 não ocorreu. "Doze anos é um tempo razoável”, e a temperatura tem permanecido constante. 

Embora sem abrir mão da tese de que as emissões humanas de dióxido de carbono possam levar a um aumento global na temperatura, ele concorda agora que faltaram estudos a respeito do efeito dos oceanos sobre o clima. O oceano pode ter um papel fundamental, admite. "Ele poderia fazer toda a diferença entre uma idade quente e uma idade do gelo", disse. 

Há uma pergunta no ar: foi um erro? Lovelock foi um dos principais formuladores do ambientalismo como ideologia, baseado num “santuarismo” paralisante do desenvolvimento particularmente de países pobres, entre eles a China, a Índia e o Brasil. Entre a ciência e a política, sua ação abandonou a primeira para reforçar o conservadorismo capitalista dominante e a defesa da manutenção da distribuição do poder político e econômico no mundo a favor das potências industriais capitalistas. 

Ele foi um dos principais esteios da condenação dos cientistas que não aceitavam a tese dos adeptos da corrente principal do pensamento ambiental segundo a qual a mudança climática seria resultado da ação humana. E que tentaram desqualificar esses críticos impondo-lhes o rótulo de “céticos”. 

O rolo compressor de um autointitulado “consenso científico” simplesmente desconsiderou as críticas científicas solidamente fundamentadas que recusavam as “verdades” dogmáticas deste verdadeiro evangelho do santuarismo ambientalista que é o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o organismo da ONU dedicado ao problema) onde os questionamentos feitos pelos cientistas foram simplesmente ignorados. Lovelock foi um dos pilotos desse rolo compressor do conservadorismo ambientalista. 

Neste sentido, falar em “erro” pode ser simplório pois, na verdade, tratava-se de um dogma político que precisava ser impingido a países que defendiam seu direito ao desenvolvimento combinado com a defesa do meio ambiente. No mundo posterior à crise econômica de 2007/2008 e do rearranjo do quadro geopolítico internacional que veio na esteira dela, os dogmas do rolo compressor do aquecimento global simplesmente perderam o sentido e não colam mais. Qual será, agora, o próximo erro?

Eduardo Bomfim: Uma rara oportunidade

Reproduzo artigo do camarada Eduardo Bomfim:
Manifestação de trabalhadores em Portugal

O primeiro de maio no mundo mostrou, pelas gigantescas manifestações acontecidas, a extensão e profundidade da crise do projeto neoliberal ortodoxo em vigência por quase todo o planeta, expõe os gargalos de natureza estrutural tanto do próprio sistema quanto desse modelo econômico imposto às sociedades pelo menos nos últimos vinte e cinco anos.

Um período caracterizado pela hegemonia absoluta do neoliberalismo que alcançou uma abrangência multilateral permeando os espaços da economia mas se estendeu também aos campos da cultura, comunicação, diplomacia, política, além do inquestionável predomínio militar.

Uma época em que foram mutilados vários princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas, elaborada após a vitória dos aliados contra o nazi-fascismo.

E tem sido tamanha a força política, militar, do capital financeiro internacional e dos Estados Unidos, guardiões da nova ordem mundial, que essa Carta foi reescrita na prática, adequando-a aos novos movimentos de expansão, centralização do capital em nível global.

Produziu-se também um discurso teórico, ideológico cujo objetivo central tem sido a manutenção da supremacia absoluta das estratégias políticas e financeiras do capital, implementadas através dos organismos que compõem a nova ordem mundial onde o complexo midiático internacional hegemônico exerce papel determinante.

Esse centro de poder mundial, fenômeno que surgiu após a débâcle da URSS, sustentado militarmente, elaborou uma "nova agenda social" como falsa e fragmentada alternativa às fundamentais plataformas universais das lutas dos trabalhadores e nações, partindo da problematização de temas pertinentes e generosos, mas que passaram a ser ditados como a quinta-essência da chamada "questão social".

Mas as consequências da atual crise sistêmica do capital repõem na ordem do dia, de maneira objetiva, as principais bandeiras de lutas relativas à emancipação dos povos, assim como o combate pela soberania nacional, como elementos incontornáveis ao progresso social de qualquer País.

O Brasil na contramão da crise global precisa adotar estratégias com vistas à construção de um projeto de nação (e de civilização) alternativos a esses impostos pela nova ordem mundial que se encontra visivelmente esgotada. Em um mundo que se encaminha para uma transição histórica, é uma rara oportunidade que não pode ser desperdiçada.

* Advogado, membro do Comitê Central do PCdoB
quarta-feira, 2 de maio de 2012

PCdoB lança documento sobre política ambiental



Em reunião realizada em meados do mês de abril, a Comissão Política Nacional do PCdoB debateu a redação de um documento oficial sobre a política ambiental do partido. Para a direção nacional da legenda, a incorporação da questão ambiental no Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é fator estruturante para a promoção de um salto civilizacional no país.

A formulação da política ambiental do PCdoB é baseada na teoria marxista e a análise da realidade concreta do meio ambiente. Situando que a degradação ambiental ocorre há muito tempo, o documento afirma que “o capitalismo transforma tudo em mercadoria e, em sua fase imperialista, exacerba a privatização dos recursos naturais e procura controlar as fontes destes recursos nos países em desenvolvimento”.

A resolução defende ainda a valorização da natureza e do meio ambiente, considerando o ser humano parte da natureza — conforme aborda Marx nos Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844. “O homem vive da natureza, isto é, a natureza é seu corpo, e tem que manter com ela um diálogo ininterrupto se não quiser morrer. Dizer que a vida física e mental do homem está ligada à natureza significa simplesmente que a natureza está ligada a si mesma, porque o homem dela é parte”.

O partido considera ainda que a solução de fundo para a crise econômica, social e ambiental do capitalismo só virá com a adoção de um sistema de produção e consumo voltado para o bem-estar da humanidade, o socialismo.


Clique no link para ter acesso ao documento: DesenvolvimentoSustentável Soberano

terça-feira, 24 de abril de 2012

O difícil encontro com as feridas da guerra – Damasco, Síria


Reproduzo aqui o relato do camarada André Tokarski, presidente nacional da UJS, que esta na Síria com uma delegação da Federação Mundial das Juventudes Democráticas (FMJD) e do Conselho Mundial da Paz (CMP):

Domingo é o primeiro dia de trabalho na semana para os sírios. O final de semana começa na sexta-feira,  como prega a tradição muçulmana (maioria na população síria), mas o hábito também foi incorporado pelos católicos e cristãos ortodoxos.

Foi no domingo também que iniciamos o primeiro dia de visitas e agendas de trabalho na Síria da delegação composta por organizações filiadas ao Conselho Mundial da Paz e à Federação Mundial das Juventudes Democráticas. 

Pontualmente as 8:30h da manhã embarcamos no ônibus na porta do Omayad Hotel (situado na Av. Brasil, no centro de Damasco) em direção à primeira atividade prevista: uma visita a soldados feridos nos conflitos que estão em recuperação no Hospital Militar de Damasco.

Fomos recebidos pelo diretor do hospital, um Comandante do Exercito da Síria. Em um auditório o militar sírio nos apresentou brevemente um panorama sobre os confrontos em curso no país. Relata que o exercito sírio não luta contra seu povo, mas sim o defende de milícias formadas por mercenários vindos principalmente do Afeganistão e do Iraque (durante a ultima guerra no Iraque 2 milhões de refugiados iraquianos migraram para a Síria). 

A maior parte dos confrontos entre o Exercito sírio e as milícias mercenárias ocorrem na região norte do país,  próximo à  fronteira com a Turquia (país com reconhecida hostilidade à Síria). 

Em Damasco não houve e não há nenhum tipo de confronto. A capital da Síria tem sido vitimada por covardes atentados terroristas com carros-bomba, que já levaram mais de 30 civis à morte. 

O Comandante do Exército destacou ainda a importância do veto imposto  por Rússia e  China  no Conselho de Segurança da ONU a qualquer tipo de intervenção militar externa em seu país, o que sem duvida, caso ocorresse, desencadearia um grande banho de sangue. Agradeceu também em especial o apoio que o governo e o povo da Síria tem recebido da diplomacia brasileira em meio a esta crise.

Até aqui, as feridas da guerra ainda não haviam sido expostas.

O contato nu e cru com as seqüelas causadas pelo conflito tivemos poucos minutos depois. Encerrada a reunião com o diretor do hospital, fomos levados a uma cerimônia militar fúnebre de três soldados mortos em confronto. O contato tão próximo com o simples caixão de madeira envolto com a bandeira da Síria causou comoção em todos nós. Feitas as homenagens os corpos foram entregues às famílias num clima de profunda tristeza. Perguntei a um militar próximo a idade dos soldados mortos, todos tinham menos de 24 anos.

De volta ao hospital nos dividimos em três grupos para visitar nos quartos os soldados feridos. No primeiro quarto encontramos dois jovens. Um deles, recebia também a visita do pai. Com a ajuda de um tradutor expressamos o nosso sentimento de solidariedade e de desejo de pronta recuperação. Dissemos também os países de origem de cada membro da delegação. 

Quando nos preparávamos para partir em direção ao próximo quarto, o pai que visitava o filho ferido, e que até então nos olhava com certa desconfiança, diz emocionado ao tradutor que agradece muito a nossa visita e pede que façamos o possível para ajudar a cessar os conflitos. Estava ali visitando o filho mais velho, um outro, mais novo, morreu em confronto há três meses.

Em outro quarto nos deparamos com um senhor de cerca de 60 anos. Perdeu parte da perna esquerda em uma troca de tiros com grupos milicianos. Estava acompanhado de sua esposa, vestida toda de preto por conta do luto, um dos filhos do casal morreu em uma emboscada a uma patrulha do Exercito em Homs (norte na Síria).

Depois do hospital visitamos a Universidade de Damasco, onde tivemos uma reunião com representantes da União Nacional dos Estudantes da Síria. A UNE deles também representa estudantes de universidades publicas e privadas e conta com a participação de diversas forças políticas. Mas o fato que quero registrar sobre a visita à universidade foi um dialogo que presenciei entre um grupo de estudantes (principalmente mulheres) e alguns membros de nossa delegação. Diziam, revoltados, que há muita mentira nos meios de comunicação sobre a Síria, principalmente por parte da Al Jazzeera, que é ligada ao regime do Quatar. Parte do grupo relata que há duas semanas participou de uma grande manifestação Damasco em repudio às ações das milícias e em apoio às medidas do governo, mas que foi noticiado pela CNN e BBC que se tratava de uma passeata de opositores de Bassar Al  Assad. 

No regresso ao hotel, após um dia inteiro circulando pela cidade, o clima entre nós era de indignação e perplexidade. O contraste entre os feridos e mortos que vimos no hospital com a normalidade da vida em Damasco (lojas abertas, universidades funcionando, ruas cheias e movimentadas) deixa evidente que o conflito na Síria é uma ação orquestrada por grupos mercenários armados, incentivados por minorias ultra-sectárias islâmicas que de forma oportunista e  vergonhosa contam com o apoio da União Européia e dos EUA.



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Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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