sexta-feira, 26 de julho de 2013

O Horizonte das Jornadas de Junho

Mais uma vez passei um bom tempo sem escrever nada por aqui, irei aos poucos retomar este espaço. Por hora, apresento um texto que fiz no dia 08 de julho sobre as manifestações que eclodiram em todo o Brasil, é bem verdade que muita coisa mudou de lá para cá, mas existem elementos no texto que acredito serem importantes. Segue o mesmo:
Manifestação na Praça Centenário em Maceió

As ruas do Brasil foram tomadas por grandes manifestações no último mês de junho, as “marchas de junho”, como começam a ser chamadas, se somam a grandes manifestações populares que ocorreram na historia do país. Este fenômeno ainda em curso exige sensibilidade e estudo daqueles que procuram compreendê-lo.

É de todos sabido que as manifestações começaram em função do aumento das passagens do transporte coletivo nas grandes cidades, com inicio na cidade de São Paulo. Após a repressão sofrida por manifestantes de São Paulo durante os protestos, se iniciou uma nova fase, as manifestações passaram a receber enorme apoio popular e sofreram a diversificação de suas pautas. Os mais variados motivos, que se expressavam nos cartazes levados às ruas pelos manifestantes, evidenciam a pluralidade das bandeiras defendidas, porem é preciso buscar os motivos que levaram a essa explosão de protestos e quais são as reivindicações mais gerais do movimento.

É verdade que o Brasil tem atravessado um importante momento de desenvolvimento econômico, marcado pelos governos democráticos e progressistas do ex-presidente Lula e da atual presidenta Dilma Rousseff, chegamos a uma década destes governos com importantes resultados: elevação da capacidade de compra das classes mais pobres; saída de mais de 30 milhões de trabalhadores da miséria; fortalecimento do mercado interno; diversificação das relações econômicas internacionais (BRICs); fortalecimento de uma política externa independente e da integração latino-americana (retomada do papel do MERCOSUL, criação da UNASUL e CELAC); elevação dos investimentos na área de educação, criação do PROUNI, expansão das Universidades Federais e dos institutos Federais, dentre outras medidas.

Entretanto, não é difícil diagnosticar que a realidade do Brasil ainda é profundamente desigual, são muitos os problemas vividos pela maioria da população que ainda não obtiveram respostas dos governos durante esta última década, nem tão pouco durante os períodos anteriores. A acumulação de problemas históricos do país, na sua maioria negligenciados pelo Estado brasileiro, consiste em grave questão, cobrada de forma difusa pelas Jornadas de Junho.

Enquanto a imensa maioria da população convive com serviços públicos de péssima qualidade, enfrentando meses de fila para conseguirem atendimento no SUS, com o baixo nível de qualidade do ensino, o aumento da violência e o caos que representa os sistemas de transportes nos grandes centros urbanos, que condenam diariamente seus usuários a uma jornada que poderíamos classificar como desumana, não é essa a realidade vivida por uma pequena elite do país, basta citar que somos a segunda maior frota de helicópteros do mundo ao passo que possuímos um dos sistemas de transportes mais atrasados.

Em tempos de difundida propaganda sobre as benesses do mundo global, da tentativa de se negar os efeitos e objetivos da globalização neoliberal, bem como do aumento da resistência a este processo, não podemos deixar de analisar os protestos de fora deste contexto. O capitalismo vive profunda crise estrutural, iniciada em 2007/2008 e ainda sem saídas à vista. O Brasil inevitavelmente esta inserido neste processo de crise do capitalismo, embora não esteja sentindo seus efeitos de forma profunda em função das mudanças promovidas na última década e do papel de outros agentes econômicos internacionais.

Mas a crise do capitalismo não revela apenas sua insuficiência do ponto de vista econômico, o modelo de sociedade imposto pela hegemonia neoliberal com a padronização de comportamentos, bem como de conceitos e visões de mundo, a imposição de uma agenda social fragmentada, difundida pelos meios de comunicação, mais a centralização do poder e a negação cada vez maior das liberdades individuais em nome da manutenção desta realidade, estão de forma dialética relacionadas com a critica e insatisfação com o tipo de sociedade que estamos construindo.

Somadas a esta realidade, é preciso identificar os reais obstáculos que precisam ser superados para dar respostas de conteúdo aos anseios expressos nas ruas, os quais muitas vezes se limitam a aparência dos problemas, em função do nível de consciência adquirido. Demonstração disto é a critica feita aos “gastos” com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de Futebol, que segundo estudo da consultoria Ernest Young junto com a Fundação Getúlio Vargas, para cada real investido pelo poder público nas obras estruturantes alavanca 3,4 reais de investimento privado, podendo o evento gerar 3,6 milhões de empregos, enquanto isto, questões como a manutenção do superávit primário para o pagamento e amortização da dívida pública comprometem cerca de 48% do orçamento da União, retirando de fato recursos que deveriam ser investidos na melhor qualidade dos serviços públicos.

Existem entraves históricos que impedem ao Brasil avançar de fato, de se tornar uma nação melhor como desejam todos os manifestantes que ocuparam as ruas. Neste sentido é necessária a realização de reformas de caráter estrutural, que possam dar as condições ao Brasil de crescer economicamente melhorando a vida da imensa maioria da população e combatendo suas distorções. Além das urgentes reformas da educação, das cidades, do campo e do aumento radical do financiamento do SUS, é preciso realizar a reforma política para combater a influência do poder econômico nas eleições e fortalecer os partidos como instrumentos de representação dos interesses das classes e suas frações, bem como democratizar os meios de comunicação, como meio de coibir a manipulação midiática e democratizar o acesso e a divulgação da informação.

As propostas contidas do pacto apresentado pela presidenta Dilma Rousseff constituem uma importante resposta do governo a insatisfação demonstrada nas ruas, representa a oportunidade do governo avançar em seu programa e pode significar uma reorientação de sua atuação na medida em que interferi na movimentação das demais forças políticas que atuam na realidade brasileira. As propostas apresentadas devem ser apoiadas pelo movimento que ocupa as ruas, em especial no que se referi a reforma política e aos investimentos em educação, saúde e transporte, mas não podem ser a representação do máximo dos anseios dos manifestantes, são a sinalização de uma conquista, que pode se concretizar, mas que deve ser encarada como mais um passo em uma grande caminhada.

As entidades que ao longo de suas trajetórias se preocupam com as questões expostas, estão organizadas para não permitir que este momento seja desperdiçado, que se possa conquistar o máximo possível, por isso será realizado no próximo dia 11 de julho o dia nacional de paralizações e manifestações, será a demonstração da entrada da classe trabalhadora neste processo com a reivindicação de mudanças que permitam de fato a melhoria dos serviços públicos mais a conquista de uma nação melhor.

Há um longo caminho a ser trilhado, as Jornadas de Junho foram mais um capítulo da incessante luta do povo brasileiro, que conheceu reveses e revira voltas, mas que sempre insiste em caminhar na busca de uma vida melhor. Há um horizonte de possibilidades, que possamos conquistar as que verdadeiramente ajudem o Brasil a ser uma nação prospera e soberana.

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Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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