terça-feira, 5 de outubro de 2010

Analfabetos políticos processam Tiririca

Reproduzo a seguir artigo de José Reinaldo Carvalho do Portal Vermelho a cerca da polêmica eleição do Tiririca e do processo movido pela direita contra ele em São Paulo.

Quando o fenômeno Tiririca começava a despontar como algo relevante durante a campanha eleitoral, este Portal, através de brilhante artigo do jornalista José Carlos Ruy, fez uma análise crítica, chamando a atenção para o equívoco de parcela do eleitorado exercer o seu legítimo protesto contra as instituições políticas através do voto folclórico.

Por isso, sentimo-nos à vontade para manifestar repúdio ao processo que movem contra o Tiririca na Justiça Eleitoral de São Paulo. Temos a convicção de que é preciso protestar, sim, contra o sistema político, mas de outra forma, inclusive usando de maneira judiciosa a arma do voto, não o desperdiçando.

Em muitos aspectos o sistema político-eleitoral brasileiro está superado, como expressão da falência do sistema de dominação das classes dominantes. Substituí-lo exige reforma profunda, estrutural, tarefa para um poder político de tipo revolucionário. Mas isso é outra história.

Ao sufragar com mais de 1,3 milhão de votos o palhaço Tiririca, parcela do eleitorado paulista elegeu um personagem, não um candidato. É preciso perguntar-se por quê e extrair as necessárias lições do fenômeno. Setores das classes dominantes, porém, para não enfrentar o problema na sua essência, tomam atitudes que só aumentarão a repulsa às instituições vigentes.

O noticiário de hoje destaca que a Justiça Eleitoral aceitou denúncia contra o deputado federal eleito Francisco Everardo Oliveira Silva por “suspeita de analfabetismo”. O deputado Francisco Everardo é ninguém menos que o intérprete de Tiririca.

A estapafúrdia denúncia nada tem a ver com a necessária crítica ao rebaixamento do voto e do debate político contidos na pitoresca candidatura do palhaço.

Antes, é a mais grosseira manifestação do caráter elitista e antidemocrático das classes dominantes brasileiras. Ao acusar o deputado eleito de analfabeto, como se se tratasse de um crime, o denunciante fala em nome não apenas dos alfabetizados (?!) não eleitos por força da migração de seus votos para o Tiririca. Interpreta o discurso e mimetiza os gestos dos escravocratas, dos burgueses, dos latifundiários, dos rentistas, dos agentes do imperialismo, dos proprietários dos meios de comunicação, cujos patrimônio e poder político sempre repousaram sobre a fome, a miséria, a doença e o analfabetismo de milhões e milhões de tiriricas do Brasil.

A diferença da ação judicial para outras ações de intolerância é apenas de forma. Nunca se deve esquecer que quando as classes dominantes pretendem excluir os miseráveis e os analfabetos da vida política, recorrem também ao látego, à repressão policial e, a depender da exacerbação dos conflitos sociais, à prisão, tortura e assassinato.

Inculpam o Tiririca por analfabetismo, sabendo que a responsabilidade por esta chaga social é das elites dominantes.

O processo aberto na Justiça Eleitoral contra Tiririca é uma ação de analfabetos políticos. Com ela os doutos (?!) senhores que a escreveram dão-lhe uma bandeira política e o transformam em intérprete de uma insatisfação muito mais profunda do que a manifestada através do voto folclórico por parte dos milhões de tiriricas que não tiveram a mesma sorte na vida.


José Reinaldo Carvalho

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Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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