sexta-feira, 6 de abril de 2012
Não é possível salvar a indústria sem atacar a especulação
10:15
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As medidas anunciadas pela presidente Dilma
Rousseff para socorrer a indústria têm um aspecto positivo ao revelar a
preocupação do governo em fortalecer a economia frente ao tsunami monetário que
ela mesma denunciou há algumas semanas.
Preocupação corporificada
com os dados recentes que mostraram um crescimento pífio do PIB em 2011, a
tendência de desaceleração no desempenho da indústria e a queda em sua
participação no conjunto da economia brasileira, que volta aos níveis da década
de 1950.
Mas as medidas
podem ser superficiais e insuficientes. O temor de desindustrialização se
fortaleceu com bases reais. O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser
Pereira diagnostica a temida “doença holandesa”, que já teria contaminado o
Brasil, fazendo a indústria recuar em consequência da valorização do real
devido às receitas alcançadas com a exportação de matérias-primas.
O ex-ministro
identifica corretamente as medidas anunciadas como parte de uma política
industrial, “que são boas mas não resolvem o problema”.
O problema, afinal,
é a herança ortodoxa mantida na política macroeconômica. Herança maligna
formada pelo tripé juros altos, câmbio flutuante e superávit primário, que
garante a festa dos especuladores financeiros e penaliza os trabalhadores e os
setores produtivos.
O valor do conjunto
de medidas que o governo anunciou pode passar de R$ 60 bilhões, indicando uma
provável correção de rumo frente às medidas “macroprudenciais” do início do
governo, em 2011, que chegaram ao corte de R$ 50 bilhões. Mas não há como fugir
da conclusão de que as medidas anunciadas permanecem na superfície do problema,
têm caráter paliativo e não significam uma solução duradoura.
O Brasil não
alcançará patamares saudáveis de crescimento econômico e fortalecimento de sua
economia com medidas paliativas. Isso exige mudanças mais profundas na
economia, cuja implementação depende de convicções estratégicas que ainda não
foram reveladas ao longo do ciclo político aberto com a eleição de Lula em
2002.
A crise tem sido
enfrentada com medidas tangenciais que, se tiveram êxito até agora –
particularmente pela âncora significada pelo mercado interno fortalecido que
impulsiona o crescimento da economia –, são medidas que deixam intocado o
fundamental, justamente o tripé acima referido. Mantendo a herança neoliberal e
ortodoxa na economia, a desindustrialização se tornou um fenômeno objetivo. E o
país ainda continua sem encontrar um rumo de desenvolvimento com valorização do
trabalho e progresso social.
Mas a presidente
Dilma Rousseff verbaliza a intenção de enfrentar, ao menos em parte, o
problema, ao anunciar que um dos objetivos de seu governo é elevar a taxa de
investimentos no Brasil dos atuais 19.9% do PIB para 20,8% no fim deste ano e
entre 22% e 25% até 2014.
É uma intenção
positiva que vem envolta em outra pergunta: como se poderá alcançar este
patamar sem mexer no tripé que favorece a especulação financeira? E sem dar
passos significativos no sentido das reformas estruturais democráticas,
políticas e sociais que a nação reclama? A resposta não está apenas com o
governo. Ela exige um equacionamento político e uma mobilização das forças
progressistas da nação, a começar pelos trabalhadores.
Editorial do Portal Vermelho de 5 de Abril de 2012.
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- Naldo
- Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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