sexta-feira, 13 de abril de 2012
Luciano Rezende: O ludismo agrícola
13:43
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Reproduzo aqui mais um excelente artigo de Luciano Rezende*
Engana-se
quem imagina que o ludismo passou à história. O pensamento de Ned Ludd encontra
seguidores em diversos campos que, na atualidade, atuam muito além do movimento
operário.
Inicialmente opostos às novas tecnologias desenvolvidas no âmbito da
Revolução Industrial, propondo a depredação de fábricas modernas e a destruição
das máquinas como forma de luta em defesa da nascente classe operária, os
neoludistas agrícolas, adaptados aos novos tempos, canalizam suas ações contra
as inovações tecnológicas desenvolvidas a partir da Revolução Verde, propondo o
extermínio das plantações modernas e a eliminação dos transgênicos como sendo,
literalmente, a salvação da lavoura. A esse respeito já nos advertia Karl Marx:
“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
O equívoco dos ludistas de ontem é o equívoco dos ludistas de hoje: erram o alvo. Ao invés de combaterem a apropriação do conhecimento por meia dúzia de gigantes do setor privado, preferem centrar seu tacão justamente contra os grandes avanços tecnológicos. A reivindicação mais acertada seria a socialização destas inovações tecnológicas entre os agricultores, sem pagamento dos pesados royalties às multinacionais.
A campanha anti-transgênico e a própria mobilização contra a utilização de
insumos químicos (banalizados como agrotóxicos) na agricultura, defendidas por
setores dos movimentos social e ambiental, é ludista na medida em que nega
estes avanços técnicos extraordinários conquistados pela humanidade e os joga
na vala comum daquilo que elegeram como principais inimigos da humanidade. “Por
um mundo livre de transgênicos” é a consigna da vez. Por acaso é o avião o
culpado pelos bombardeios aéreos que vitimam civis inocentes ou a política
belicista deste ou daquele governo que o utiliza para estes fins?
Os transgênicos podem ser direcionados, normalmente, a quatro características
espetaculares: resistência às pragas, tolerância a herbicidas, perfil nutritivo
melhorado ou tempo de armazenamento dos produtos agrícolas aumentado. Uma
política de Estado deve fortalecer a Embrapa e financiar empresas nacionais a
pesquisarem e desenvolverem cultivares voltados às necessidades do povo
brasileiro. Mais ainda, urge romper os grilhões da dependência dos produtores
rurais às multinacionais do setor que direcionam suas linhas de pesquisa a
pacotes tecnológicos específicos que amarram os agricultores aos seus produtos.
É como nos diz Antônio Delfim Netto em sua coluna de hoje (11/04) na Folha de
São Paulo: “Não se pode e não se deve esperar que uma empresa privada, que só
pode sobreviver se gerar lucro, distribuir dividendos e criar valor para seus
acionistas, atenda corretamente ao interesse social se tiver objetivos
conflitantes entre o curto e o longo prazo.” Eis o xis da questão.
O continente africano, sempre citado pelos neoludistas como vítima dos avanços
tecnológicos na agricultura, não foi prejudicado pelo desenvolvimento de
híbridos há décadas atrás, mas sim pela privação do uso de insumos, técnicas e
maquinários condizentes a explorar todo o rico potencial da heterose destes
cultivares melhorados. O continente africano não pode ser expropriado de usar
material altamente produtivo, com insumos variados, manejo técnico racional e a
mais avançada tecnologia, com o pretexto de se manter a cultura de
subsistência, atrasada tecnicamente. A Embrapa, que tem notável experiência
relacionada aos nossos cerrados, pode dar enorme contribuição às condições das
savanas africanas.
Outro vilão dos neoludistas, o insumo químico (um inseticida, por exemplo) é
uma ferramenta de controle a mais dentro de um manejo integrado de pragas que
conta também com outros métodos auxiliares, tais como o físico, o mecânico, o
biológico, por comportamento, entre outros. A saída não é a simples supressão
do controle químico, mas a racionalização de seu uso legal, com acompanhamento
técnico e maior presença do Estado na fiscalização, sobretudo, do descarte de
embalagens, respeito ao período de carência, uso de equipamento de proteção
individual, assistência aos trabalhadores, proteção ao consumidor, etc.
Utilizamos mais de 80 mil substâncias químicas na indústria alimentícia,
farmacêutica e no uso doméstico, em um total de aproximadamente 11 milhões,
segundo dados da Sociedade Norte-Americana de Química (ACS, na sigla em
inglês). Podemos adotar a postura ludista e tocar fogo em toda a tabela
periódica, ou criar políticas públicas capazes de melhorar a fiscalização e
monitoramento do uso destas substâncias.
Até o conceito sobre o que é tóxico muda através do tempo, mas o ludismo teima
a sobreviver a ele, disseminando suas toxinas contra tudo que se apresenta como
técnica e cientificamente avançado.
* Engenheiro Agrônomo, mestre em Entomologia e doutor em Fitotecnia (Melhoramento Genético de Plantas). Professor do Instituto Federal Fluminense (IFF)
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- Naldo
- Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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