terça-feira, 2 de agosto de 2011
Claudia Petuba: “Latinamente ser, livremente estar, brasileiramente amar”
11:35
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No ano de 2007 tive minha primeira experiência em um evento nacional do Movimento Estudantil, foi o então 50º Congresso da gloriosa UNE, esse congresso sem sombra de dúvidas marcou minha vida, e dentre várias pessoas que eu tive a oportunidade de conhecer tem uma que conquistou o meu respeito e admiração, foi a atual diretora da UNE em Alagoas, a minha camarada: Claudia Petuba.
De lá pra cá Claudia tem afirmado seu espaço na sociedade, é hoje minha parceira na direção estadual da UJS e também no Comitê Estadual do PCdoB, foi candidata nas últimas eleições a deputada federal e ainda se formou em direito na FAA no mesmo ano, sem falar que já ta metida em uma pós-graduação e é pré-candidata a vereadora em Maceió. No trabalho de direção da UJS vivemos brigando, não por divergências políticas ou ideológicas, mas por detalhes, ela consegui ser mais perfeccionista que eu! rsrsrs.
Bom, é com muito orgulho que reproduzo aqui no Blog uma entrevista que ela concedeu (é mais uma boa conversa que uma entrevista necessariamente) ao nosso grande camarada e secretario de organização do Partido Comunista do Brasil, Walter Sorrentino, vocês podem conferir a entrevista na integra no Blog do Walter: Projetos para o Brasil.
Segue a entrevista:
Quem é você, Cláudia Petuba? Quer dizer, como você chegou a ser quem é…
Sou uma jovem alagoana, com muitos anseios e desejos, amo o meu país, meu estado, vejo a vida com simplicidade, encontrei-me na política, sou amante e defensora da liberdade, não me conformo com injustiças. Gosto de ler, estar na companhia dos amigos, ver e jogar futebol – no ataque, fazendo gols de preferência. A letra da música “Canto do chão”, composta por artistas alagoanos na década de 80 traduz bem a essência da minha vida: “Latinamente ser, livremente estar, brasileiramente amar”. Os fatos que aconteceram na vida, nada de extraordinário, naturalmente me fizeram ser o que sou, uma pessoa simples e descomplicada.
A família e seu entorno tiveram que papel nessa trajetória? Como é tua família? O sobrenome é de Alagoas mesmo?
Minha família é enorme, unida e divertida. Toda ela, assim como eu, é de Arapiraca, a segunda maior cidade do estado, localizada no agreste, a muitas gerações vive na mesma região. Logo, imagino que os sobrenomes estranhos (Claudia Aniceto Caetano Petuba) tenham se originado por aqui mesmo, minha pesquisa para tentar descobrir sua origem foi mal sucedida. Sempre escutei muitas piadas por causa deles (os sobrenomes), em especial na infância, mas sempre achei muito legal ter um sobrenome diferente. Depois que o “Petuba” ficou mais em evidência, sempre perguntam se é por que eu perturbo muito, antes que alguém por aqui também pergunte, digo logo que não (hehehe)! Minha família me inspira muito, meus avós maternos foram criados e formaram sua família na zona rural, tirando o sustento da terra, minha mãe e meus tios foram criados na roça, batalharam muito para concluir os estudos, a maioria deles só o conseguiram depois do casamento, a parte paterna também, mas enfrentou tudo na zona urbana. Mas hoje, orgulhosamente, tenho tios professores, motoristas, médico, uma mãe pedagoga e um pai bancário, que incentivam muito os estudos das novas gerações. Toda ela floresceu sob dois princípios que hoje também me norteiam: solidariedade e honestidade. Falei muito, mas você foi perguntar logo da família, não poderia falar pouco! Hehehe…
Você sempre se destacou nos estudos?
Eu sempre fui uma aluna esforçada, sempre gostei de me dedicar aos estudos, no entanto nunca fui a “CDF” (apelido dado para o mais estudioso da turma – Crânio De Ferro) – a mais aplicada da turma -, mas sempre fui muito curiosa para ler e conhecer coisas para além da escola, sobre o Brasil e o mundo. Como falei anteriormente, minha família sempre incentivou os estudos e cobrava boas notas (como meu pai era constantemente transferido no emprego, estudei em várias escolas diferentes e em todas elas minha mãe era, em disparada, a que mais freqüentava a escola, procurando saber como iam os estudos meu e dos meus irmãos e para dar palpite sobre a escola) não com rigidez e sim com um bom diálogo. Meus irmãos e eu nunca tivemos problema em casa por tirar notas abaixo da média, meus pais procuravam saber o que acontecia e procuravam ajudar. Enquanto muitos amigos que também tiveram oportunidade de chegar ao ensino superior pensavam se iriam continuar os estudos ou não e optaram por parar, sair da escola e ir direto para o ensino superior sempre foi colocada pela minha família como a ordem natural das coisas. Assim, em dezembro de 2005 conclui o ensino médio e em fevereiro de 2006 iniciava o curso de direito numa faculdade particular e seis meses depois começava o de administração numa universidade pública.
Como você fez as opções profissionais? Não tem sido tão comum militância política ao lado de rigor na formação profissional… Acho isso um enorme patrimônio para a vida.
Passei a minha infância pensando que seria arquiteta, a adolescência jurando que iria ser jornalista, mas na última semana de inscrição do vestibular uma professora fez uma dinâmica/brincadeira na sala de aula para indicar nossas afinidades profissionais e resultou que eu faria direito: no primeiro dia não gostei, pensei que a professora tinha feito uma brincadeira sem graça; no segundo a dúvida começou a surgir, no terceiro eu fui falar com o meu pai “será?”, acabou que foi! Não poderia ter sido outra a primeira escolha, não sei como nunca havia pensado nisso, sou apaixonada por direito. Secundariamente crescia a vontade de também estudar administração, que acabei efetivando poucos meses depois de iniciar o primeiro curso. Comecei a militar no movimento estudantil logo no início do curso e a cada semestre me envolvia mais, no começo ficava meio atrapalhada, mas rapidamente, com um pouco de disciplina a conciliação entre os estudos e a militância vieram com tranqüilidade. Como o militante muitas vezes precisa dormir mais tarde e acordar mais cedo por causa de atividade e tarefas para cumprir, às vezes é necessário fazer o mesmo para cumprir a rotina de estudos. No período das eleições de 2010 pensei em trancar a faculdade, estava no décimo e último período de direito, mas eu pensei: militei até agora e estudei, vou continuar conseguindo. Ausentei-me da sala de aula até o dia da eleição, depois voltei com tudo, dedicação total de outubro a dezembro; descansando pouco consegui estudar, fazer todas as provas e o TCC/Monografia, deu tudo certo! Entreguei o TCC no prazo certo e colei grau junto a minha turma. Sem dúvida alguma, a militância contribuiu e continua contribuindo muito para a minha formação. A maioria das Instituições de Ensino Superior do país têm uma visão exclusivamente academicista, querem apenas formar um profissional – e ainda assim muitas vezes deixam a desejar – focando apenas na concorrência no mercado de trabalho, sem considerar que o estudante está inserido num contexto social que também deve ser atentado. Tive a oportunidade de estudar no ensino público e privado, as diferenças são gritantes em vários aspectos. É urgente a necessidade da regulamentação do ensino privado e expansão da rede pública, ambos precisam de efetividade em aspectos qualitativos.
Consciência política mesmo veio como? Como você chegou à UJS e ao PCdoB? Teve apoios e influências?
Não sei bem como veio, desde que me entendo por gente eu gosto de ler e ver jornal, saber o que acontecia no resto do Brasil e do mundo, assistir aos guias eleitorais, falar sobre assuntos considerados “sérios” para as crianças. Lembro que quando tinha 8 ou 9 anos estava no carro com meu pai e ele reclamava que a estrada estava cheia de buracos (que por sinal continua até hoje), na hora eu respondi que ele não se preocupasse que um dia eu iria me candidatar e resolveria o problema; não sei de onde saiu aquela idéia, na minha família ninguém nunca havia se candidatado a nenhum cargo, sequer alguém havia se filiado a algum partido, na minha rotina não escutava nada sobre política, mas aquilo me encantava. Só fui relembrar desse fato durante a campanha do ano passado, que eu não imaginava que disputaria. Sempre fui metida a ser representante de turma, quando estudava sobre história e via o papel e conquistas do movimento estudantil, lamentava não ter tido a oportunidade de participar de algo tão grandioso e importante liderado por jovens. Na faculdade, no início do curso, alguns estudantes de outra instituição passaram na minha sala numa campanha para organização de CA’s, foi empolgante escutar aquelas falas, saber o que era um CA e que o movimento estudantil ainda existia, ajudei a fundar o Centro Acadêmico do meu curso e entrar em contato com outros CA’s. Atuava de maneira independente, embora tivesse contato com alguns grupos de juventude e do movimento estudantil e juventude de alguns partidos, tinha acabado de tirar meu título de eleitor e estudava o programa de alguns partidos, queria conhecer melhor a política partidária. Mas a postura e atuação dos militantes da UJS e do PCdoB se assemelhavam mais às minhas, até que fui para o Congresso da UNE de 2007: fiquei impressionada com a grandiosidade e organização da UNE, do movimento estudantil e da UJS, pensava no porque de não ter vivenciado aquilo antes. O congresso e as propostas me fizeram enxergar o quanto a minha vida e os meus sonhos eram limitados, que eu poderia e deveria ser mais ousada, poderia fazer muito mais, não só por mim, mas pela educação e pelo Brasil, pois os desafios e as demandas eram muito grandes. Alguns meses depois me filiei a UJS e pouco depois ao PCdoB. Comecei a entender muita coisa que eu sentia e não entendia, a desigualdade social me incomodava muito, comecei a descobrir como poderia ajudar. Militando na UJS e no PCdoB a verdadeira Cláudia que estava escondida dentro de mim foi desabrochando. Meu pai sempre compreendeu e apoiou minha militância, isso me ajudou muito, e a poucos meses ele também virou um “militante de carteirinha”.
Tua campanha foi enormemente motivadora. Qual foi o segredo dela?
Foi pensada, organizada e desenvolvida com muita vontade e garra, não apenas minha, mas de toda a militância que se envolveu. A campanha foi tocada por uma galera jovem, que se deparou com a pouca ou nenhuma experiência e muitas dificuldades e soube responder a tudo muita energia, alegria e animação. Ficamos orgulhosos do que fomos capazes de fazer. Em Alagoas a batalha eleitoral é muito intensa, com muitos resquícios de coronelismo, com poucas famílias se perpetuando e dominando a política, economia e meios de comunicação. Mostrar que é possível fazer uma campanha eleitoral diferente disso, que há alternativas políticas já é motivador. As desigualdades são profundas em Alagoas, mais de 60% da população vive na pobreza ou miséria; um estado rico, mas riqueza concentrada nas mãos de poucos. Saber que a mudança desse cenário é possível com uma política acertada é ainda mais estimulante.
Juventude brasileira: um tesouro que você integra. O que você pensa ser o maior a ser superado na tua atual geração?
São muitos os desafios, ajudar a consolidar a democracia no Brasil e garantir o seu desenvolvimento são desafios que todos os brasileiros têm, mas acredito que os jovens tomam muito pra si essa responsabilidade de ajudar o Brasil a se desenvolver, distribuir renda, criar mais oportunidades. E a educação tem um enorme peso nesse processo, um ponto determinante é universalizar o acesso a rede pública de ensino básico, fundamental, médio, superior e pós-graduação, ambos precisam ser expandidos com muita qualidade, o povo precisa ser educado para poder ter uma liberdade real.
Amor ao Brasil, essa é uma marca do PCdoB, ao lado do compromisso com o povo trabalhador e o socialismo. Como você se situa neste momento com respeito a isso?
Muito me orgulha fazer parte de um partido que compartilha do mesmo amor que tenho pelo Brasil. O Brasil passa por mudanças importantes no campo político, econômico e social, vem consolidando avanços e procurando crescer ainda mais. O Partido também se desenvolve, posiciona-se muito bem neste cenário, faz corretas avaliações e renova-se com muita originalidade. Apoiar Lula desde a sua primeira candidatura e ajudar a construir o governo Dilma, que avança no desenvolvimento, são provas disso; o Projeto Nacional de Desenvolvimento trás muitos elementos para seguir nesse sentido. O crescimento do Partido é sequencial, enorme e se dá qualitativamente, ainda estamos muito longe de vivermos num país socialista, mas estamos no caminho certo. Fico feliz em fazer parte e poder ajudar a construir o projeto político do partido, que continua na defesa do trabalhador e alicerçando o socialismo no Brasil, tenho certeza que continuará por outras dezenas de anos (em breve poderemos dizer centenas de anos).
Mas pergunto: partidos políticos estão sob enorme pressão desmoralizadora. Quando você expõe tua opção política, o que é que você mais ouve na juventude? E o que você responde?
Os jovens e não jovens estranham, estranhavam ainda mais antes de ser candidata a deputada federal, o fato de ser jovem e ser filiada e atuar num partido político. As pessoas sempre ficavam curiosas para entender o porquê de estar filiada, se eu ainda acreditava que a política mudaria e se me achava capaz de contribuir com uma mudança positiva. Sempre respondi essas perguntas com muito otimismo, procurando animar essas pessoas que muitas vezes já estavam desacreditadas. No senso comum todos que se filiam a algum partido são interessados numa candidatura nas eleições institucionais, muitas pessoas têm dificuldade para compreender que existe uma militância partidária independente das eleições. Gosto de provocar as pessoas a se questionarem o porquê das tentativas em desmoralizar os partidos, o que acontece com grande influência da mídia. Nas minhas respostas procuro, sinteticamente, claro, esclarecer a luta de classes que ocorre independente da vontade de um indivíduo e que a atuação num partido político que defende questões maiores que apenas uma eleição ou outra é a saída. A classe que detêm o maior número de pessoas precisa também ocupar os espaços de poder, no momento a via eleitoral é o principal caminho a ser trilhado nesse sentido. Gosto de finalizar dizendo que acredito na política e nos partidos políticos e que elas deveriam acreditar também.
Jovem, mulher, logo mais trabalhadora. Você é prototípica do presente e futuro da maioria do povo do Brasil. Onde você imagina estar em cinco e dez anos, no plano pessoal, social-profissional e político? Vale sonhar…
Sinceramente não sei bem onde me imagino ou gostaria de estar num futuro a médio ou longo prazo, prefiro até não planejar, já tive muitas boas surpresas com o curso que minha vida vem tomando, muitas expectativas superadas. Sou muito feliz e posso dizer que aos 22 anos estou contente com o meu rendimento. Sei que num futuro próximo, quem sabe já no ano que vem (2012), espero concretizar minha enorme vontade e desejo de ser professora universitária e consolidar uma candidatura vitoriosa para a Câmara de Vereadores de Maceió. Em 10 anos gostaria de estar casada, quem sabe com filhos, dar aulas em universidades, não sei bem onde, mas espero já estar com muito serviço prestado para o meu Brasil e seu povo trabalhador.
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- Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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