terça-feira, 12 de março de 2013
O Canal do Sertão do estado federalizado
20:20
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Segue meu último texto:
A visita da presidenta Dilma Rousseff a Alagoas
para inauguração do trecho de 65 km da obra do Canal do Sertão não deve ser
analisada apenas como cumprimento da agenda presidencial, como mais uma das
ações do governo federal pelo país afora ou meramente como parte do processo de
desenvolvimento impresso no país através de uma retomada do papel do Estado na
economia. Esse acontecimento merece e deve fazer parte de uma análise mais
profunda da relação entre o estado e a união, para tanto é necessário ir além
das aparências, analisarmos a essência de determinados fenômenos.
Ir à essência destes fenômenos passa por
compreender a situação econômica do estado de Alagoas, suas condicionantes
históricas e as consequências deste cenário econômico. Os estudos do professor
da UFAL, Cícero Péricles, já há certo tempo demonstram a realidade econômica do
estado, marcada por uma estrutura fundiária atrasada e extremamente
concentrada, por níveis elevadíssimos de desigualdade social, baixa instrução
da imensa maioria da população e ausência de polos produtivos dinâmicos.
Em particular, cabe destacar o efeito nefasto para
nossa economia do acordo fiscal do ano 1989 que salvou o setor
sucroalcooleiro que estava em crise. A inadimplência deste setor e o acordo
mencionado levaram a estrutura estatal à uma crise, acabando com a capacidade
de investimento do Estado alagoano e o mergulhando em uma divida que só tem
crescido.
Esses fatores levaram Alagoas a uma relação de
extrema dependência do governo federal, principalmente na medida em que se foi
retomando o papel do Estado Nacional no desenvolvimento, através das políticas
de transferência de renda e garantia social, dos investimentos e do
planejamento estatal. A entrada do Canal do Sertão no PAC é a exemplificação da
dependência que Alagoas tem para poder realizar investimentos e melhorias na
sua própria infraestrutura, porem mais grave é a dependência das políticas de
transferência de renda do governo federal, visto que possuem um papel mais
preponderante para a economia local do que o próprio setor sucroalcooleiro.
Essa situação econômica gera manifestações próprias
na luta política em Alagoas. Primeiro é importante observar que as elites
tradicionais do estado, ligadas ao setor da cana e do açúcar e organizada
especialmente na conhecida cooperativa dos usineiros, possui atualmente um
gigantesco poder político, dominando as estruturas do Estado como forma de
compensar seu “declínio” econômico. Em segundo, mesmo essas elites sendo ideologicamente
antagônicas ao campo político do governo federal, elas se aproximam pragmaticamente
como forma de levar à frente seus projetos locais, associando inclusive as
ações do governo federal como se fossem realizações do governo do estado. Por
último, essa situação gera uma confusão na definição dos campos políticos em
Alagoas, ficam pouco evidentes quais são as forças que de fato compõem o campo
que esta a frente do governo federal e as forças que fazem parte do campo
opositor, o que por sua vez dificulta a distinção destes campos na luta
política local.
É fundamental termos em vista qual o conteúdo desta
elite forjada pelo setor sucroalcooleiro, pois se trata de um setor que
historicamente tem construído sua consciência de classe e se organizado para
manutenção de seu poder econômico e da dominação dos aparelhos de Estado. Seus
interesses econômicos se sobrepõem aos interesses da imensa maioria dos
alagoanos, não existindo necessidade de superação do atual atraso econômico e
social vivido pela população para manutenção de sua estrutura de poder, pelo
contrário, são eles beneficiados pela manutenção do atual estado de coisas.
Dessa forma, podemos concluir que a construção de
alternativas de desenvolvimento para Alagoas necessita da participação do
governo federal, em virtude das limitações e incapacidade do estado em realizar
investimentos. Mas essa análise por si só não é o bastante, a ela temos que
incluir o conteúdo de classe da elite que atualmente domina o poder político no
estado, pois desenvolver Alagoas mantendo as relações de poder atuais seria
como caminhar por uma via “prussiana”. Um projeto real de desenvolvimento exige
também a configuração de novas forças no poder político do Estado. A esta
tarefa, creio, devem se sentir convocadas as forças políticas que compõem o
atual campo de oposição ao governo estadual.
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- Naldo
- Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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