domingo, 4 de agosto de 2013
Inflação: A Agenda dos Meios de Comunicação
01:31
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Reproduzo a seguir texto que escrevi em junho deste ano:
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Jovens durante manifestação em Maceió pedindo a democratização dos Meios de Comunicação |
Não
é de hoje que os grandes meios de comunicação do país apresentam de forma
articulada agendas a serem seguidas pela sociedade, especialmente pelo governo
e demais instituições do Estado. Recorrentemente tem estado na pauta da grande
mídia a inflação, a forma como o tema é abordado e apresentado leva qualquer
pessoa, que tenha apenas estes meios como fonte de informação, à ideia de que
atualmente passamos por um enorme perigo do aumento da inflação, que é preciso
“conter os gastos desnecessários”, “priorizar o superávit primário”, pois “o
governo gasta muito e mal”.
Essa
agenda faz parte da cartilha econômica ortodoxa neoliberal, possui conteúdo de
classe, favorece especialmente os setores ligados ao capital financeiro. É
importante ter isto claro para se compreender porque a inflação tem sido um dos
eixos principais da agenda econômica apresentada pelos grandes meios de
comunicação. O aparente consenso entre os economistas que por vezes são
entrevistados pelos âncoras dos principais noticiários, sempre reforçam a
necessidade de se poupar mais, aumentar a taxa de juros e enfim, implementar
por completo a política macroeconômica neoliberal.
A
concentração dos meios de comunicação em massa nas mãos de poucas famílias é um
dos maiores obstáculos ao desenvolvimento nacional com perspectiva de uma
política econômica expansiva, desenvolvimentista. Não só isso, é um entrave
para a democracia brasileira. Os “donos” da mídia no Brasil tem sua origem e
consciência de classe bem definida, atuam politicamente e utilizam dos meios de
comunicação como poderosíssimo aparelho de Estado a serviço dos interesses do
capital financeiro.
Não
por acaso a mídia brasileira esbraveja tanto quando se reduz a taxa básica de
juro e realiza forte campanha e pressão para que a mesma volte a subir,
especialmente se valendo do “perigo da volta do crescimento da inflação” e da
perda do controle da mesma. De fato, a taxa de juros é um importante
instrumento de controle da inflação, mas quando esta é de demanda, e as
principais variáveis da inflação do último período estão relacionadas à oferta.
A verdade é que a taxa básica de juros é o instrumento do principal programa,
não oficial, de transferência de renda do país: o pagamento de juros dos
títulos da união, o pagamento da divida interna e externa. Essa tem sido uma
das principais questões de fundo deste debate, a qual os âncoras das televisões
e os editoriais dos grandes jornais do país fazem questão de esquecer, ou
simplesmente de não informar.
É
urgente e necessário avançar nos esforços para mudança da orientação da
política macroeconômica, a lógica de se gerar lucros e acumular capital sem se
investir na produção precisa ser quebrada. O nacional-desenvolvimentismo que
impulsionou a modernização e desenvolvimento do país até o fim da década de 70,
o qual os apologistas do neoliberalismo repugnam, precisa ser retomado com nova
perspectiva. Retomar o desenvolvimento como parte de um projeto nacional, que
enfrente a questão da taxa de câmbio na defesa da indústria nacional, que dê ao
Brasil uma nova arrancada, não só na economia, mais no sentido da construção de
uma nação forte, soberana, com maior poder de decisão de seu povo e
aprofundamento de sua democracia.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
O Horizonte das Jornadas de Junho
15:01
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Mais uma vez passei um bom tempo sem escrever nada por aqui, irei aos poucos retomar este espaço. Por hora, apresento um texto que fiz no dia 08 de julho sobre as manifestações que eclodiram em todo o Brasil, é bem verdade que muita coisa mudou de lá para cá, mas existem elementos no texto que acredito serem importantes. Segue o mesmo:
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Manifestação na Praça Centenário em Maceió |
As
ruas do Brasil foram tomadas por grandes manifestações no último mês de junho,
as “marchas de junho”, como começam a ser chamadas, se somam a grandes
manifestações populares que ocorreram na historia do país. Este fenômeno ainda
em curso exige sensibilidade e estudo daqueles que procuram compreendê-lo.
É
de todos sabido que as manifestações começaram em função do aumento das
passagens do transporte coletivo nas grandes cidades, com inicio na cidade de
São Paulo. Após a repressão sofrida por manifestantes de São Paulo durante os
protestos, se iniciou uma nova fase, as manifestações passaram a receber enorme
apoio popular e sofreram a diversificação de suas pautas. Os mais variados
motivos, que se expressavam nos cartazes levados às ruas pelos manifestantes,
evidenciam a pluralidade das bandeiras defendidas, porem é preciso buscar os
motivos que levaram a essa explosão de protestos e quais são as reivindicações
mais gerais do movimento.
É
verdade que o Brasil tem atravessado um importante momento de desenvolvimento
econômico, marcado pelos governos democráticos e progressistas do ex-presidente
Lula e da atual presidenta Dilma Rousseff, chegamos a uma década destes
governos com importantes resultados: elevação da capacidade de compra das
classes mais pobres; saída de mais de 30 milhões de trabalhadores da miséria;
fortalecimento do mercado interno; diversificação das relações econômicas
internacionais (BRICs); fortalecimento de uma política externa independente e
da integração latino-americana (retomada do papel do MERCOSUL, criação da
UNASUL e CELAC); elevação dos investimentos na área de educação, criação do
PROUNI, expansão das Universidades Federais e dos institutos Federais, dentre
outras medidas.
Entretanto,
não é difícil diagnosticar que a realidade do Brasil ainda é profundamente
desigual, são muitos os problemas vividos pela maioria da população que ainda
não obtiveram respostas dos governos durante esta última década, nem tão pouco
durante os períodos anteriores. A acumulação de problemas históricos do país,
na sua maioria negligenciados pelo Estado brasileiro, consiste em grave
questão, cobrada de forma difusa pelas Jornadas de Junho.
Enquanto
a imensa maioria da população convive com serviços públicos de péssima
qualidade, enfrentando meses de fila para conseguirem atendimento no SUS, com o
baixo nível de qualidade do ensino, o aumento da violência e o caos que
representa os sistemas de transportes nos grandes centros urbanos, que condenam
diariamente seus usuários a uma jornada que poderíamos classificar como
desumana, não é essa a realidade vivida por uma pequena elite do país, basta
citar que somos a segunda maior frota de helicópteros do mundo ao passo que
possuímos um dos sistemas de transportes mais atrasados.
Em
tempos de difundida propaganda sobre as benesses do mundo global, da tentativa
de se negar os efeitos e objetivos da globalização neoliberal, bem como do
aumento da resistência a este processo, não podemos deixar de analisar os
protestos de fora deste contexto. O capitalismo vive profunda crise estrutural,
iniciada em 2007/2008 e ainda sem saídas à vista. O Brasil inevitavelmente esta
inserido neste processo de crise do capitalismo, embora não esteja sentindo seus
efeitos de forma profunda em função das mudanças promovidas na última década e
do papel de outros agentes econômicos internacionais.
Mas
a crise do capitalismo não revela apenas sua insuficiência do ponto de vista
econômico, o modelo de sociedade imposto pela hegemonia neoliberal com a
padronização de comportamentos, bem como de conceitos e visões de mundo, a
imposição de uma agenda social fragmentada, difundida pelos meios de
comunicação, mais a centralização do poder e a negação cada vez maior das
liberdades individuais em nome da manutenção desta realidade, estão de forma
dialética relacionadas com a critica e insatisfação com o tipo de sociedade que
estamos construindo.
Somadas
a esta realidade, é preciso identificar os reais obstáculos que precisam ser
superados para dar respostas de conteúdo aos anseios expressos nas ruas, os
quais muitas vezes se limitam a aparência dos problemas, em função do nível de
consciência adquirido. Demonstração disto é a critica feita aos “gastos” com a
Copa das Confederações e a Copa do Mundo de Futebol, que segundo estudo da
consultoria Ernest Young junto com a Fundação Getúlio Vargas, para cada real
investido pelo poder público nas obras estruturantes alavanca 3,4 reais de
investimento privado, podendo o evento gerar 3,6 milhões de empregos, enquanto
isto, questões como a manutenção do superávit primário para o pagamento e
amortização da dívida pública comprometem cerca de 48% do orçamento da União,
retirando de fato recursos que deveriam ser investidos na melhor qualidade dos
serviços públicos.
Existem
entraves históricos que impedem ao Brasil avançar de fato, de se tornar uma
nação melhor como desejam todos os manifestantes que ocuparam as ruas. Neste
sentido é necessária a realização de reformas de caráter estrutural, que possam
dar as condições ao Brasil de crescer economicamente melhorando a vida da
imensa maioria da população e combatendo suas distorções. Além das urgentes
reformas da educação, das cidades, do campo e do aumento radical do
financiamento do SUS, é preciso realizar a reforma política para combater a
influência do poder econômico nas eleições e fortalecer os partidos como
instrumentos de representação dos interesses das classes e suas frações, bem
como democratizar os meios de comunicação, como meio de coibir a manipulação
midiática e democratizar o acesso e a divulgação da informação.
As
propostas contidas do pacto apresentado pela presidenta Dilma Rousseff
constituem uma importante resposta do governo a insatisfação demonstrada nas
ruas, representa a oportunidade do governo avançar em seu programa e pode
significar uma reorientação de sua atuação na medida em que interferi na
movimentação das demais forças políticas que atuam na realidade brasileira. As
propostas apresentadas devem ser apoiadas pelo movimento que ocupa as ruas, em
especial no que se referi a reforma política e aos investimentos em educação,
saúde e transporte, mas não podem ser a representação do máximo dos anseios dos
manifestantes, são a sinalização de uma conquista, que pode se concretizar, mas
que deve ser encarada como mais um passo em uma grande caminhada.
As entidades que ao longo de suas trajetórias se
preocupam com as questões expostas, estão organizadas para não permitir que
este momento seja desperdiçado, que se possa conquistar o máximo possível, por
isso será realizado no próximo dia 11 de julho o dia nacional de paralizações e
manifestações, será a demonstração da entrada da classe trabalhadora neste
processo com a reivindicação de mudanças que permitam de fato a melhoria dos
serviços públicos mais a conquista de uma nação melhor.
Há um longo caminho a ser trilhado, as Jornadas de
Junho foram mais um capítulo da incessante luta do povo brasileiro, que
conheceu reveses e revira voltas, mas que sempre insiste em caminhar na busca
de uma vida melhor. Há um horizonte de possibilidades, que possamos conquistar
as que verdadeiramente ajudem o Brasil a ser uma nação prospera e soberana.
domingo, 12 de maio de 2013
Amor de mãe
20:26
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Existem momentos em nossa vida em
que somos tomados pela emoção e pelos sentimentos mais humanos, mesmo as
pessoas mais centradas e “duras” não podem negar o quão bom é viver estes
momentos e o quanto gostaríamos de poder vivenciá-los com maior frequência. O
dia das mães é sem dúvida um desses.
A relação mãe-filho, por mais
particular que seja e tomo aqui a minha como base, possui generalidades que
confundem os limites do ser animal e humano. Os sentimentos de amor, carinho,
admiração, respeito e cumplicidade são primeiramente experimentamos com as
nossas mães. Com elas desenvolvemos uma relação onde os conflitos e as
contradições fazem parte de uma unidade onde prevalece o amor e o respeito.
Certa vez me foi dito que “às
vezes as palavras não são capazes de conceber os sentimentos”, esta pessoa como
quase sempre estava corretíssima. Por isso me limito a dizer que quando penso
em minha mãe, vejo-a como uma mulher onde as certezas e as dúvidas conseguem se
fundir... Dúvidas certas e certezas duvidosas... Ao mesmo tempo, vejo
disciplina, trabalho, compreensão e claro... Amor, muito amor.
Maria Eliuza, obrigado por ser
minha mãe! Obrigado também as mães que quando pus a perna no mundo me “adotaram”.
Nestes tempos de crise, imerso em contradições,
cheio de esperança e ao mesmo tempo ainda obscuro, espero que o “amor de mãe”
possa ajudar a humanidade a ser mais humana.
terça-feira, 12 de março de 2013
O Canal do Sertão do estado federalizado
20:20
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Segue meu último texto:
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A visita da presidenta Dilma Rousseff a Alagoas
para inauguração do trecho de 65 km da obra do Canal do Sertão não deve ser
analisada apenas como cumprimento da agenda presidencial, como mais uma das
ações do governo federal pelo país afora ou meramente como parte do processo de
desenvolvimento impresso no país através de uma retomada do papel do Estado na
economia. Esse acontecimento merece e deve fazer parte de uma análise mais
profunda da relação entre o estado e a união, para tanto é necessário ir além
das aparências, analisarmos a essência de determinados fenômenos.
Ir à essência destes fenômenos passa por
compreender a situação econômica do estado de Alagoas, suas condicionantes
históricas e as consequências deste cenário econômico. Os estudos do professor
da UFAL, Cícero Péricles, já há certo tempo demonstram a realidade econômica do
estado, marcada por uma estrutura fundiária atrasada e extremamente
concentrada, por níveis elevadíssimos de desigualdade social, baixa instrução
da imensa maioria da população e ausência de polos produtivos dinâmicos.
Em particular, cabe destacar o efeito nefasto para
nossa economia do acordo fiscal do ano 1989 que salvou o setor
sucroalcooleiro que estava em crise. A inadimplência deste setor e o acordo
mencionado levaram a estrutura estatal à uma crise, acabando com a capacidade
de investimento do Estado alagoano e o mergulhando em uma divida que só tem
crescido.
Esses fatores levaram Alagoas a uma relação de
extrema dependência do governo federal, principalmente na medida em que se foi
retomando o papel do Estado Nacional no desenvolvimento, através das políticas
de transferência de renda e garantia social, dos investimentos e do
planejamento estatal. A entrada do Canal do Sertão no PAC é a exemplificação da
dependência que Alagoas tem para poder realizar investimentos e melhorias na
sua própria infraestrutura, porem mais grave é a dependência das políticas de
transferência de renda do governo federal, visto que possuem um papel mais
preponderante para a economia local do que o próprio setor sucroalcooleiro.
Essa situação econômica gera manifestações próprias
na luta política em Alagoas. Primeiro é importante observar que as elites
tradicionais do estado, ligadas ao setor da cana e do açúcar e organizada
especialmente na conhecida cooperativa dos usineiros, possui atualmente um
gigantesco poder político, dominando as estruturas do Estado como forma de
compensar seu “declínio” econômico. Em segundo, mesmo essas elites sendo ideologicamente
antagônicas ao campo político do governo federal, elas se aproximam pragmaticamente
como forma de levar à frente seus projetos locais, associando inclusive as
ações do governo federal como se fossem realizações do governo do estado. Por
último, essa situação gera uma confusão na definição dos campos políticos em
Alagoas, ficam pouco evidentes quais são as forças que de fato compõem o campo
que esta a frente do governo federal e as forças que fazem parte do campo
opositor, o que por sua vez dificulta a distinção destes campos na luta
política local.
É fundamental termos em vista qual o conteúdo desta
elite forjada pelo setor sucroalcooleiro, pois se trata de um setor que
historicamente tem construído sua consciência de classe e se organizado para
manutenção de seu poder econômico e da dominação dos aparelhos de Estado. Seus
interesses econômicos se sobrepõem aos interesses da imensa maioria dos
alagoanos, não existindo necessidade de superação do atual atraso econômico e
social vivido pela população para manutenção de sua estrutura de poder, pelo
contrário, são eles beneficiados pela manutenção do atual estado de coisas.
Dessa forma, podemos concluir que a construção de
alternativas de desenvolvimento para Alagoas necessita da participação do
governo federal, em virtude das limitações e incapacidade do estado em realizar
investimentos. Mas essa análise por si só não é o bastante, a ela temos que
incluir o conteúdo de classe da elite que atualmente domina o poder político no
estado, pois desenvolver Alagoas mantendo as relações de poder atuais seria
como caminhar por uma via “prussiana”. Um projeto real de desenvolvimento exige
também a configuração de novas forças no poder político do Estado. A esta
tarefa, creio, devem se sentir convocadas as forças políticas que compõem o
atual campo de oposição ao governo estadual.
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- Naldo
- Ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e ex-presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Alagoas. Atual militante e presidente do Comitê Municipal de Maceió do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
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